As outras chagas de Chagas

Em abril será lançada a primeira cartilha médica sobre a infecção causada pelo barbeiro. A doença sempre esteve associada à zona rural... e graças a um intenso programa de erradicação do barbeiro na zona rural, em 2006 a Organização Pan-Americana da Saúde havia decretado o fim no país da infecção pelo contato direto com o inseto. Porém, nos últimos anos as contaminações ressurgiram. Agora elas ocorrem por via oral e estão disseminadas também nas zonas urbanas. Os casos mais recentes aconteceram pelo consumo de restos do barbeiro misturados a alimentos como açaí e caldo de cana. Os novos doentes já somam 600. O número de casos registrados cresce, em média, 20% ao ano.

(Veja, 24.02.2010. Adaptado.)

Sobre a notícia, pode-se afirmar corretamente:

Resposta correta: D

Tema central: a questão trata da transmissão oral da doença de Chagas (Trypanosoma cruzi) e das consequências epidemiológicas e clínicas desse modo de infecção. É importante saber como o parasita é transmitido, diferenças entre vias (vetorial x oral), e interpretar dados de crescimento exponencial.

Resumo teórico essencial: T. cruzi normalmente é transmitido por triatomíneos (barbeiros) que eliminam fezes contendo formas infectantes. Na transmissão oral, alimentos ou bebidas (ex.: açaí, caldo de cana) são contaminados por fezes ou insetos esmagados contendo tripomastigotas metacíclicos. Essa via pode conduzir a uma maior carga infectante no momento da exposição, associando-se a surtos e formas agudas mais graves. Fontes de referência: PAHO/WHO e publicações em saúde pública sobre surtos por via oral.

Justificativa da alternativa D: A alternativa D afirma que na transmissão oral o organismo recebe carga parasitária maior que nos modos convencionais. Isso é compatível com evidências: alimentos contaminados podem concentrar grande número de formas infectantes (por ex., insetos esmagados ou fezes diretamente no alimento), produzindo exposição maciça de parasitas e maior parasitemia inicial, explicando a gravidade observada em surtos. Portanto, D é correta.

Análise das alternativas incorretas:

A — Incorreta. Substituir alimentos tradicionais por industrializados não eliminaria a doença. Controle exige vigilância, higiene alimentar, controle vetorial e políticas públicas; industrializados também podem ser contaminados se houver falha no processamento.

B — Incorreta. A transmissão oral não exige que insetos vivos sejam ingeridos. Basta a presença de formas infectantes (fezes do barbeiro ou insetos esmagados) no alimento ou bebida.

C — Incorreta. A afirmação sobre “ausência de defesas imunológicas do sistema digestório” é falsa. O trato digestório possui defesas imunes; a maior gravidade decorre principalmente da maior carga parasitária e do modo de entrada, não de ausência total de defesa local.

E — Incorreta por cálculo. Com crescimento médio de 20% ao ano, em 5 anos o fator é 1,2^5 ≈ 2,488. Partindo de 600 casos: 600×2,488 ≈ 1.493 casos — mais que o dobro. Logo, não é “quase que dobrado”, mas muito acima do dobro.

Estratégia para provas: verifique palavras absolutas (“só”, “apenas”); em itens numéricos, faça a conta rápida de crescimento exponencial; em questões biológicas, relacione mecanismo (como entra o parasita) à consequência clínica/epidemiológica.

Fontes úteis: PAHO/WHO — Chagas disease; materiais do Ministério da Saúde sobre surtos por transmissão oral. Consulte também artigos de revisão sobre transmissão oral em periódicos de saúde pública.

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