Revolução Industrial: o que foi, fases, consequências

Publicado em: 13/12/2022

A Revolução Industrial foi um processo iniciado na Inglaterra, a partir da segunda metade do século XVIII. Acompanhado do desenvolvimento das primeiras máquinas à vapor, esse advento automatizou e acelerou os modos de produção e transformou as relações de trabalho – provocando uma verdadeira revolução econômica, política, social e cultural.

Diante de tamanho impacto mundial e da abrangência de seus desdobramentos, a Revolução Industrial é elemento-chave para compreender tanto o desenvolvimento do capitalismo moderno, quanto diversos outros acontecimentos que se desenrolaram durante os séculos seguintes. Assim, esse é, de longe, um dos assuntos mais abordados nas provas de Ciências Humanas do ENEM.

O acúmulo de capital e o fim das terras comunais: os antecedentes da Revolução Industrial.

Para entender os motivos de a Revolução Industrial ter começado na Inglaterra, é importante considerar a origem do capital e da mão-de-obra necessários para que esse processo de industrialização pudesse acontecer.

Com a expansão do comércio internacional durante os séculos XVI e XVII, em 1651, foram assinados os Atos de Navegação, uma série de leis que garantiram o monopólio inglês sobre as rotas de comércio marítimo – impulsionando o mercantilismo e permitindo um grande acúmulo de capital pela burguesia inglesa. Essa concentração de riquezas pela burguesia se tornou ainda mais favorável a partir da Revolução Gloriosa de 1698, que provocou a queda do absolutismo e o início de uma monarquia constitucional baseada no liberalismo.

Outro ponto a ser considerado foram as Leis de Cercamentos, assinadas entre os séculos XVI e XVIII. Dando fim às relações feudais e privatizando terras de uso coletivo, essas leis provocaram um grande êxodo rural de camponeses em direção às cidades – que formaram o chamado exército industrial de reserva.

O papel da burguesia inglesa no início da Revolução Industrial

Diante do cenário de acúmulo de capital, a burguesia inglesa passou a investir no desenvolvimento de meios de produção mais rápidos e eficazes – resultando no surgimento das primeiras máquinas à vapor, ainda no final do século XVII.

Feitas de ferro e movidas à queima de carvão mineral – dois recursos naturais abundantes na Inglaterra –, essas máquinas permitiram a produção de mercadorias em larga escala e em menos tempo, gerando grandes lucros. Por conta disso, a mecanização foi se espalhando pelo país, sendo empregada, principalmente, nas indústrias têxteis, metalúrgicas, siderúrgicas e de transportes.

Toda essa expansão industrial provocou um acelerado processo de urbanização e de crescimento populacional nas cidades inglesas, influenciando também a modernização e a ampliação da malha ferroviária no país. Além disso, esse processo também acarretou o surgimento de dois grupos sociais distintos: a burguesia – detentora dos meios de produção – e o proletariado – trabalhadores fabris que vendiam sua força de trabalho para sobreviver.

O proletariado e as condições de trabalho na Revolução Industrial

Com a substituição da manufatura pela produção industrial, os trabalhadores fabris não precisavam ser especialistas em determinada atividade, bastava que fossem capazes de operar máquinas em um ritmo acelerado e constante.

Essa nova realidade causou profundas mudanças nas relações de trabalho, resultando não só na redução significativa dos salários como, também, no uso de crianças como mão-de-obra operária – as quais, como as mulheres, recebiam cerca de um terço do salário dos homens adultos.

Nesse contexto, as condições de trabalho foram se tornando cada vez mais precárias, com operários submetidos a ambientes insalubres por jornadas que variavam entre 14 e 16 horas diárias, sem descanso semanal.

Tendo apenas breves pausas para refeições simples, os trabalhadores costumavam sofrer de problemas respiratórios provocados pela fumaça das máquinas e de lesões por esforço repetitivo. Além disso, devido à exaustão e à falta de equipamentos de proteção, eram comuns os graves acidentes de trabalho que causavam amputações e até a morte.

Cartismo e Ludismo: as duas faces do movimento operário inglês

Diante das péssimas condições de trabalho, do constante risco à vida e até mesmo de castigos físicos, os operários ingleses se uniram para lutar por direitos básicos, dando origem a dois grandes movimentos trabalhistas: o Ludismo e o Cartismo.

Ludismo

O Ludismo surgiu no início da década de 1810, inspirado na revolta de um suposto operário, que teria destruído as máquinas da fábrica onde trabalhava. Considerando a mecanização como a causa da miséria do proletariado, o movimento ludista foi caracterizado pela invasão e depredação de maquinários como forma de pressionar os empregadores a negociarem melhores condições de trabalho.

Cartismo

Já o Cartismo surgiu na década de 1830 e tinha um caráter essencialmente político. Exigindo a criação de leis trabalhistas, a diminuição das jornadas de trabalho, o fim da mão-de-obra infantil, o aumento de salários e a participação operária no Parlamento, os cartistas agiam principalmente por meio de greves e outras mobilizações.

As diferentes fases da Revolução Industrial

Ao longo do tempo, o processo de industrialização iniciado na Inglaterra se espalhou pelo mundo e, diante da evolução tecnológica própria de cada período, a Revolução Industrial pode ser dividida em três fases distintas.

A Primeira Revolução Industrial compreende o período de meados do século XVIII a meados do século XIX, sendo marcada pelo surgimento da maquinofatura, pela alteração das relações de trabalho, pelo uso do ferro como principal matéria-prima da indústria, pelo carvão como fonte de energia e pela criação do telégrafo e das locomotivas à vapor.

A Segunda Revolução Industrial ocorreu de meados do século XIX até meados do século XX, sendo caracterizada por um intenso avanço tecnológico proporcionado pelas duas Guerras Mundiais, havendo a substituição do ferro pelo aço nas indústrias, o uso do petróleo e da eletricidade como fontes de energia e a criação do telefone, do rádio e dos motores à combustão e elétricos.

Já a Terceira Revolução Industrial se desenvolveu a partir da década de 1950, sendo marcada não só por avanços tecnológicos, mas também científicos, proporcionando o surgimento da internet, da robótica e da biotecnologia. Nesse período, houve um intenso investimento nos setores de transporte e de comunicação, que resultaram na “diminuição” das distâncias e do tempo – dando cabo ao processo de Globalização.

Além destes três períodos, a partir da década de 2010, têm se discutido o início de uma quarta fase da Revolução Industrial, caracterizada pelo desenvolvimento de produtos “smart”, pela inteligência artificial e pela virtualização de processos.

As consequências da Revolução Industrial

Apesar dos avanços proporcionados pelo processo de industrialização, a Revolução Industrial só foi possível às custas de uma acentuada exploração de recursos naturais e de mão-de-obra barata, bem como da intensificação do imperialismo europeu na África, na Ásia e no Caribe.

Além disso, o período também foi marcado pelo crescimento desenfreado das cidades, pelas péssimas condições de vida do proletariado, pela alteração nos padrões de consumo e pelo aumento da desigualdade social.

Mas, afinal, como a Revolução Industrial cai no ENEM?

Considerando as intensas transformações sociais, econômicas, políticas e culturais provocadas pela Revolução Industrial, tal assunto pode ser abordado nas provas do ENEM tanto de modo específico – em questões do componente curricular de História – quanto de modo contextualizado – sendo associado a diversas temáticas discutidas pela Geografia, pela Filosofia, pela Sociologia e pelas Artes. Porém, de modo geral, as questões costumam ser caracterizadas pela análise e interpretação de textos, como pode ser visto nos exemplos a seguir:

ENEM 2021

Juiz — Entre, Edmund, falei com o seu senhor.

Edmund — Não com o meu senhor, Vossa Excelência, espero ser o meu próprio senhor.

Juiz — Bem, com o seu empregador, o Sr. E..., o fabricante de roupas. Serve a palavra empregador?

Edmund — Sim, sim, Vossa Excelência, qualquer coisa que não seja senhor.

DEFOE, D. apud THOMPSON, E. P. Costumes em comum. São Paulo: Cia. das Letras, 1998.

Qual alteração nas relações sociais na Inglaterra é registrada no diálogo extraído da obra escrita em 1724?

a) Melhoria das condições laborais no ambiente fabril.

b) Superação do caráter servil nas relações trabalhistas.

c) Extinção dos conflitos hierárquicos no contexto industrial.

d) Abrandamento dos ideais burgueses nos centros urbanos.

e) Desaparecimento das distinções sociais no ordenamento jurídico.

Resposta: B