Pré-modernismo: o que foi, principais caracaterísticas e como cai no Enem

Publicado em: 18/10/2023

Antes de mais nada, é preciso entender que o Pré-Modernismo é um período de transição, então alguns dos autores podem apresentar traços semelhantes aos existentes nas escolas literárias anteriores (Realismo, Naturalismo, Parnasianismo e Simbolismo) e na escola posterior (Modernismo propriamente dito). Como você deve imaginar, há, também, uma multiplicidade temática. Por isso, alguns estudiosos consideram que o Pré-Modernismo não é uma escola literária. 

Contexto histórico do Pré-Modernismo

O fato é que se entende como Pré-Modernismo as publicações brasileiras ocorridas entre 1902 e 1922. Naquele período, o Brasil vivia uma verdadeira ebulição social, retratada na literatura de diversas formas diferentes. Em 1889, por exemplo, aconteceu a Proclamação da República, que impactou diretamente a sociedade brasileira. Um exemplo foi a reorganização da cidade do Rio de Janeiro - cidade que ocupava o cargo de capital federal àquela época -, que empurrou as pessoas pobres (principalmente negras) para as zonas periféricas e causou o surgimento das primeiras favelas (movimento que explica a ocupação atual dos morros do Rio, como a Rocinha). Ao mesmo tempo, no Nordeste, a seca maltratava o povo. Nesse contexto de sofrimento, houve também a Guerra de Canudos (1896-1897). 

Principais características do Pré-Modernismo

Todas essas situações chamaram a atenção dos artistas da época. Não por outro motivo, elas podem explicar as principais características do Pré-Modernismo: a linguagem jornalística e a vontade de expor a realidade brasileira - ao mesmo tempo, em que se enaltece alguns aspectos regionais - são dois elementos comuns nas obras daquele período. Já a vontade de expor o real pode explicar a terceira característica marcante: a presença de pessoas de classes sociais desfavorecidas como protagonistas das histórias. Ora, qual a melhor forma de expor um problema? Provavelmente é mostrando o ponto de vista da pessoa que vivencia aquele problema. Já a quarta característica dialoga diretamente com as mazelas sociais apresentadas: havia uma vontade de romper com o passado, uma vez que se esperava somente os avanços do futuro.

Principais autores do Pré-Modernismo

É nesse contexto que Lima Barreto, Monteiro Lobato, Augusto dos Anjos, Euclides da Cunha e alguns outros nomes começam a publicar livros que são essencialmente diferentes daquilo que se vinha fazendo até então, que não apresentam uma característica sólida entre todos, que justifique a existência de uma escola literária. Em outras palavras, eles convergem quanto às mudanças, mas divergem quanto às formas e aos conteúdos.

Pré-Modernismo no Brasil

Lima Barreto, por exemplo, lança Recordações do Escrivão Isaías Caminha (1909), romance que versa sobre o racismo (lembrando que a Lei Áurea foi assinada em 1888) e Triste fim de Policarpo Quaresma (1911), romance que apresenta uma sátira do Brasil daqueles tempos. Para alguns, "Triste fim" é a obra máxima do Pré-Modernismo brasileiro.

Monteiro Lobato se destacou tanto pela literatura para adultos, como em Urupês (1918), coletânea de contos e crônicas de temas diversos publicados em jornais por volta de 1915, quanto pela literatura para crianças, com o ápice em O Picapau Amarelo (1939).

Por sua vez, o poeta Augusto dos Anjos, conhecido como “poeta da morte” devido às temáticas exploradas em sua obra. No livro chamado Eu (1912), os poemas são marcados por subjetivismo, pessimismo e temas sombrios. Aqui, é importante destacar que alguns estudiosos veem Augusto dos Anjos como simbolista, enquanto outros o veem como pré-modernista. Mais uma vez, é importante ter em mente que o Pré-Modernismo é um movimento de transição e que, por isso, algumas classificações podem sofrer alterações a depender do teórico considerado.

Por fim, dos autores citados, temos Euclides da Cunha, responsável por Os Sertões (1902), uma das obras mais emblemáticas do pré-modernismo brasileiro. Nela, Euclides trata da Guerra de Canudos, evidenciando três pontos principais, o sertanejo, a terra e a guerra. O livro pode ser compreendido como uma obra literária, sociológica, geográfica, histórica ou de crítica humana.

Só de citar os quatro autores é possível compreender a pluralidade temática entre eles: o racismo em Lima Barreto, a menção à cultura brasileira no Sítio de Monteiro Lobato, o pessimismo em Augusto dos Anjos e o retrato realista em Euclides da Cunha.

Pré-Modernismo no Enem

No ENEM, considerando essa riqueza de assuntos presente no Pré-Modernismo, os itens podem abordar diversos aspectos. Uma possibilidade é a interpretação em si do trecho, considerando, por exemplo, termos específicos de áreas das Ciências Humanas, como aqueles existentes em Os Sertões. Outra possibilidade é a análise de valores da sociedade da época, explorando as relações existentes entre as personagens de Monteiro Lobato ou as de Lima Barreto. É possível, também, analisar as posturas do eu lírico de Augusto dos Anjos, considerando as figuras criadas por ele na descrição de seu pessimismo.

No vestibular, um exemplo de interpretação de um texto pré-modernista pode ser visto a seguir.

(ENEM 2020) Policarpo Quaresma, cidadão brasileiro, funcionário público, certo de que a língua portuguesa é emprestada ao Brasil; certo também de que, por esse fato, o falar e o escrever em geral, sobretudo no campo das letras, se veem na humilhante contingência de sofrer continuamente censuras ásperas dos proprietários da língua; sabendo, além, que, dentro do nosso país, os autores e os escritores, com especialidade os gramáticos, não se entendem no tocante à correção gramatical, vendo-se, diariamente, surgir azedas polêmica entre os mais profundos estudiosos do nosso idioma - usando do direito que lhe confere a Constituição, vem pedir que o Congresso Nacional decrete o tupi-guarani como língua oficial e nacional do povo brasileiro.

BARRETO, L. Triste fim de Policarpo Quaresma. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 26 jun. 2012.

Nessa petição da pitoresca personagem do romance de Lima Barreto, o uso da norma-padrão justifica-se pela

a) situação social de enunciação representada.

b) divergência teórica entre gramáticos e literatos.

c) pouca representatividade das línguas indígenas.

d) atitude irônica diante da língua dos colonizadores.

e) tentativa de solicitação do documento demandado.

No caso, a alternativa A se apresenta como a correta. Embora se possa responder à questão considerando a finalidade do texto apresentado, uma petição, conhecer o contexto de produção da época, do autor Lima Barreto, da personagem Policarpo Quaresma, do teor do livro etc. ajudaria eficientemente a análise do item e, consequentemente, a resolução adequada.

Para concluir, tenha em mente que o Pré-Modernismo é um movimento de transição, então procure conhecer os autores que lançaram livros naquele intervalo de tempo e compará-los às produções de outras escolas literárias, a fim de identificar os pontos de contato e os de afastamento entre as obras.