Modernismo: origem, características e principais obras
Publicado em: 22/12/2022O século XX foi um período marcado por progresso científico e conflitos políticos. Nesse contexto, surgiu, um movimento e escola literária chamado Modernismo para propor uma arte que refletisse os tempos modernos. Esse movimento foi importante para mostrar que era possível quebrar as tradições da Academia e criar uma arte inovadora em Portugal e no Brasil.
Contexto histórico do Modernismo
No início do século XX, a Europa estava em um momento de progresso científico com o desenvolvimento da Psicanálise e do Cinema, descoberta da Teoria da Relatividade e do avião. Entretanto, esse momento também foi marcado por tensões e conflitos políticos que levaram à duas guerras mundiais.
Todos esses acontecimentos levaram ao surgimento das vanguardas europeias, movimentos artísticos que propunham uma quebra das convenções artísticas para a criação de uma arte que se alinhasse melhor a um novo período histórico chamado de Modernidade. Essas vanguardas influenciaram um movimento artístico (e escola literária) chamado de Modernismo, presente no Brasil e em Portugal, durante a maior parte do século XX.
O modernismo português surgiu sob influência das mudanças políticas trazidas pelo fim da monarquia e estabelecimento da República em 1910. Ele também foi influenciado pelas preocupações em torno do crescimento da ideologia fascista entre a primeira e a segunda guerra mundial, e a rejeição da ditadura salazarista, o “Estado Novo” (1933 - 1974).
No caso do Brasil, o Modernismo foi influenciado especialmente pela aproximação do aniversário de 100 anos de independência do país e pelo contexto socioeconômico do fim da República Velha e início da Era Vargas. Seu marco inicial foi a Semana de Arte Moderna em 1922.
Características do Modernismo
Portugal:
1º fase - Orfismo (1915 - 1927)
Foi iniciada com o lançamento da revista Orpheu em 1915, por um grupo de jovens escritores e artistas. Influenciada pelas vanguardas europeias, particularmente pelo expressionismo e futurismo, essa revista tinha o objetivo de romper com o tradicionalismo e início de uma arte inovadora e moderna em Portugal.
Os traços dessa fase eram:
- Influência das vanguardas europeias, particularmente expressionismo e futurismo.
- Rompimento com as métricas poéticas.
- Críticas à burguesia.
- Foco no futuro em vez do passado.
Destacam-se entre as obras do Orfismo, Mensagem de Fernando Pessoa, A Confissão de Lúcio de Mário de Sá-Carneiro e A Flor de Almada Negreiros.
2º fase - Presencismo (1927 - 1940)
O período dessa fase do Modernismo está associado ao tempo de publicação da revista Presença. Essa revista se caracterizava por seu projeto de uma literatura intimista, influenciada por autores como Proust e Dostoievsky. Era criticada por alguns intelectuais, principalmente orfistas, por conta da sua isenção política durante a ascensão do fascismo e início da ditadura salazarista.
Os traços dessa fase eram:
- Valorização da subjetividade.
- “Psicologismo de presença”: análise do mundo interior do autor.
- Arte abstrata e metafísica, apolítica.
Destacam-se entre as obras do Presencismo, Jogo da Cabra Cega de José Regio, Romance numa Cabeça de João Gaspar Simões e Mar Coalhado de Branquinho da Fonseca.
3º fase - Neorrealismo (1940 - 1974)
Foi inaugurado com a publicação da obra “Gaibéus” de Alves Redol em 1940. O neorrealismo surgiu como uma escola literária de combate ao salazarismo e à popularização dos ideais fascistas pela Europa durante a Segunda Guerra Mundial. O fim dessa literatura ocorreu juntamente ao fim da ditadura de Salazar, com a Revolução dos Cravos.
Os traços dessa fase eram:
- Temas políticos e sociais.
- Alinhamento ideológico de esquerda, com influências marxistas. Oposição ao fascismo, à ditadura salazarista e ao capitalismo.
Destacam-se entre as obras do Neorrealismo, “Marés” de Alves Redol, “A Selva” de Ferreira de Castro e “Esteiros” de Soeiro Pereira Gomes.
Modernismo no Brasil
Assim como ocorreu em Portugal, o modernismo brasileiro teve três fases distintas, chamadas de Três Gerações do Modernismo:
1º Geração (1922 - 1930) - Fase Heroica
Seu marco inicial foi a Semana de Arte Moderna em 1922. Ela foi influenciada pelo progresso científico no início do século XX, pelas inovações propostas pelas vanguardas europeias e pela aproximação do aniversário de 100 anos de independência do Brasil - que levou a questionamentos sobre a identidade nacional e a independência da arte brasileira.
Um dos motivos para o estabelecimento dessa fase foi a reação de intelectuais modernistas ao artigo "Paranóia ou mistificação?” de Monteiro Lobato, no qual ele fez severas críticas a uma exibição vanguardista da pintora Anita Malfatti.
Os principais traços dessa geração eram:
- Releitura crítica da história do Brasil.
- Liberdade formal, uso de versos brancos e livres.
- Senso de humor.
Algumas obras significativas dela foram Os Sapos de Manuel Bandeira, Macunaíma de Mario de Andrade, e Pau-Brasil de Oswald de Andrade.
2º Geração - Fase Consolidadora (1930 - 1945)
Foi influenciada pelo clima de resistência política entre intelectuais de esquerda, motivada pelo crescimento do fascismo e autoritarismo durante a ditadura da Era Vargas (1930 - 1945) e Segunda Guerra Mundial (1930 - 1945).
Os principais traços dessa geração eram:
- Temas sociais e políticos.
- Regionalismo.
- Registros da fala popular.
- Personagens complexos.
Algumas obras significativas dela foram O Quinze de Rachel de Queiroz, Vidas Secas de Graciliano Ramos e O Tempo e o Vento de Érico Veríssimo.
3º Geração - Geração de 45 (1945 - 1960)
Foi influenciada pelo fim da Segunda Guerra Mundial e pela redemocratização do Brasil. Esses eventos levaram a reflexões sobre aspectos sociais, psicológicos e metafísicos da existência humana.
Os traços dessa geração eram:
- Retorno ao uso de métricas e rimas poéticas, com influência parnasiana.
- Temas metafísicos, com influência simbolista.
- Temas sociais, cotidianos, psicológicos.
Algumas obras significativas dela foram A Hora da Estrela de Clarice Lispector, Grande Sertão de Veredas de Guimarães Rosa, Romanceiro da Inconfidência de Cecília Meireles e Orfeu da Conceição de Vinícius de Moraes.
Modernismo no ENEM
No ENEM, é necessário que o estudante compreenda quais eram os propósitos e características das obras modernistas e como elas estavam inseridas no seu contexto sócio-histórico.
ENEM 2012
O trovador
Sentimentos em mim do asperamente
dos homens das primeiras eras…
As primaveras do sarcasmo
intermitentemente no meu coração arlequinal…
Intermitentemente…
Outras vezes é um doente, um frio
na minha alma doente como um longo som redondo…
Cantabona! Cantabona!
Dlorom… Sou um tupi tangendo um alaúde!
(ANDRADE, M. In: MANFIO, D. Z. (Org.) Poesias completas de Mário de Andrade. Belo Horizonte: Itatiaia, 2005)
Cara ao Modernismo, a questão da identidade nacional é recorrente na prosa e na poesia de Mário de Andrade. Em O trovador, esse aspecto é:
a) abordado subliminarmente, por meio de expressões como “coração arlequinal” que, evocando o carnaval, remete à brasilidade.
b) verificado já no título, que remete aos repentistas nordestinos, estudados por Mário de Andrade em suas viagens e pesquisas folclóricas.
c) lamentado pelo eu lírico, tanto no uso de expressões como “Sentimentos em mim do asperamente” (v. 1), “frio” (v. 6), “alma doente” (v. 7), como pelo som triste do alaúde “Dlorom” (v. 9).
d) problematizado na oposição tupi (selvagem) x alaúde (civilizado), apontando a síntese nacional que seria proposta no Manifesto Antropófago, de Oswald de Andrade.
e) exaltado pelo eu lírico, que evoca os “sentimentos dos homens das primeiras eras” para mostrar o orgulho brasileiro por suas raízes indígenas.