Intertextualidade: o que é, tipos e exemplos
Publicado em: 21/07/2022Intertextualidade é um mecanismo de citação que ocorre, geralmente, entre as artes. Um texto, uma música ou mesmo uma imagem cita outro(a) já existente recriando a ideia e formando um novo discurso, dessa forma só podemos falar em intertextualidade caso exista um outro texto para servir de inspiração, esse texto é chamado texto-fonte.
Observe:
Canção do exílio
de Gonçalves Dias
“Minha terra tem palmeiras
Onde canta o sabiá,
As aves que aqui gorjeiam
Não gorjeiam como lá.”
Canto de regresso à pátria
de Oswald de Andrade
“Minha terra tem palmares
onde gorjeia o mar
os passarinhos daqui
não cantam como os de lá.” Europa, França e Bahia
de Carlos Drummond de Andrade
“Meus olhos brasileiros se fecham saudosos
Minha boca procura a ‘Canção do Exílio’.
Como era mesmo a ‘Canção do Exílio’?
Eu tão esquecido de minha terra...
Ai terra que tem palmeiras
Onde canta o sabiá!” Ao ler os três poemas, percebemos uma semelhança entre eles. Isso ocorre, pois foram recriados a partir de um texto-fonte, o de Gonçalves Dias, produzido à época do Romantismo. O de Oswald de Andrade traz uma citação mais direta, pois chega a repetir algumas palavras e versos inteiros do texto anterior – intertextualidade explícita; e o de Carlos Drummond de Andrade que se aproxima de uma forma oculta, constatando assim uma intertextualidade implícita.
Intertextualidade Explícita:
Ocorre de modo mais direto, o leitor logo percebe que aquele texto dialoga com outro já existente, pois há uma marca da fonte original.
Exemplo:
Trecho do poema de “Sete Faces” de Carlos Drummond de Andrade
“Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.”
Trecho do poema “Até o fim” de Chico Buarque
“Quando nasci veio um anjo safado
O chato do querubim
E decretou que eu estava predestinado
A ser errado assim”
Intertextualidade implícita:
Ocorre de modo oculto, não se percebe de imediato a intertextualidade, há a necessidade um conhecimento mais profundo ou mesmo mais específico, podendo comprometer a significação textual.
Tipos de Intertextualidade
Epígrafe
Significa literalmente “escrever acima de”, a epígrafe é uma inscrição colocadas em túmulos que lembra algo importante para aquele que está enterrado, é uma forma de homenageá-lo. Pode aparecer também em placas de homenagem e inscrições colocadas em trabalhos acadêmicos como dissertações e teses de pós-graduação.
Citação
A citação ocorre quando um autor diz literalmente o que foi dito por outro em um outro momento e identifica esse autor, geralmente aparece entre aspas.
Exemplo:
Segundo Frost (2003, p. 22) “Emoções são parte da condição humana e, portanto, inerentes a qualquer ambiente empresarial, e elas têm impacto na função e no desempenho” FROST, Peter J. Emoções tóxicas no trabalho. São Paulo: Futura, 2003.
Paráfrase
A paráfrase ocorre quando através de outras palavras se diz o que já foi dito por alguém. Diferente da citação, a paráfrase não repete palavras ou frases, apenas se apropria da ideia.
Exemplo:
A professora ajuda quem muito estuda. (Paráfrase de "Deus ajuda quem cedo madruga.")
Tradução
A tradução é um mecanismo de interpretação textual de uma determinada língua para outra.
Exemplo:
Texto original
“Hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás.” (Che Guevara)
Texto traduzido
“É preciso ser duro, mas nunca sem perder a ternura.”
Versão
A versão é uma espécie de tradução sem correspondência exata. Isso acontece pois nem sempre a tradução se encaixa da realidade social de um determinado país, ou mesmo por simples modo de renovar e recriar. É muito comum fazerem versões de músicas e filmes, ou seja, a versão é uma forma de utilizar-se do ritmo e da melodia (quando se refere a música) ou da ideia principal (quando se refere a cinema).
Exemplo:
“Sou a Barbie Girl” (Kelly Key) – Versão de “Barbie Girl (Aqua)
Paródia
A paródia é uma versão irônica e crítica de algum texto-fonte. Ocorre comumente na literatura e música. O objeto da paródia é trazer alguma reflexão crítica sobre um texto-fonte.
Exemplo:
MEUS OITO ANOS (Casimiro de Abreu)
Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!
[...]
MEUS OITO ANOS (Oswald de Andrade)
Oh que saudades que eu tenho
Da aurora de minha vida
Das horas
De minha infância
Que os anos não trazem mais
Naquele quintal de terra!
Da rua de Santo Antônio
Debaixo da bananeira
Sem nenhum laranjais
[...]
Oswald de Andrade critica a ausência de laranjais tão apreciada por Casimiro de Abreu no texto-fonte, constituindo-se uma paródia pelo tom crítico.
Intertextualidade no Enem
A intertextualidade é uma forma de averiguar os conhecimentos de mundo e interdisciplinares do candidato, no sentido de que, muitas vezes, para interpretar textos de gêneros diferentes faz necessário alguns conhecimentos prévios que ajudem na certeza da alternativa correta. Como se pode observar na questão do Enem 2014 prova amarela abaixo:
