Iluminismo: o que foi, contexto histórico e características

Publicado em: 04/04/2023

O Iluminismo foi um movimento filosófico, político e social europeu do século XVIII. Marcado pelas críticas ao absolutismo e privilégios da nobreza, pelo poder e influência exercido pela Igreja Católica e exaltação da razão humana.

Suas origens remontam ao Renascimento e à Revolução Científica, sendo um movimento originado no seio da burguesia europeia. Tratava-se de um movimento essencialmente questionador de tradições e valores, colocando a razão humana como peça fundamental na busca pela verdade e também como força preponderante na vida social, desatrelando a ação humana de uma suposta vontade divina.

A Europa vivia o auge do Antigo Regime, governos de caráter absolutista com sociedades estamentais e classes privilegiadas, como o clero e a nobreza. A grande maioria da população vivia em situações de miséria, insatisfeita com as distorções causadas por esse sistema. A burguesia não se contentava com a situação vigente pois, apesar de deter o poder econômico, pouco participava do poder político, cabendo a uma decadente nobreza essa função. E é justamente nessa burguesia que surge o movimento iluminista, que questiona os privilégios possuídos por determinadas classes que, na visão burguesa, nada produziam, enquanto a burguesia sustentava o luxo do Antigo Regime com trabalho e pagamento de impostos.

Os iluministas defendiam ideias como a separação entre Estado e igreja, liberdade individual, cientificismo e fraternidade. A disseminação do conhecimento era incentivada, com a publicação da Encyclopédie.

Características do Iluminismo

O Iluminismo entendia a razão como principal forma de alcançar a verdade e teve impactos em todo o cotidiano do continente europeu do século XVIII, que ficou conhecido como Século das Luzes.

  • Sociedade e cultura: diversos novos conceitos foram introduzidos pelo Iluminismo, afetando o cotidiano das comunidades europeias. O próprio ordenamento social, divisão de classes, era alvo constante dos filósofos iluministas, que entendiam a ideia de classes superiores e inferiores devido a família de nascimento como um completo absurdo. Além disso, a ideia de existirem liberdades individuais que limitavam o poder real tornou-se uma das principais pautas dos movimentos iluministas que se espalharam pela europa nos séculos XVIII e XIX.
  • Economia e comércio: as principais críticas recaíam sobre o modelo mercantilista, excessivamente regulado pelo estado, com uma série de impostos e regras para evitar a concorrência. Filósofos iluministas defendiam o livre-mercado, visto como a melhor maneira de atender os interesses dos indivíduos, que teriam suas demandas atendidas pelo incentivo do lucro por parte do produtor. Nas colônias americanas, as críticas centravam-se no pacto colonial exercido pelas metrópoles europeias, fazendo as elites locais almejarem a independência.

Principais ideias do Iluminismo

Dentre as várias novas ideias trazidas pelo Iluminismo, algumas merecem destaque:

  • Pensamento racional: Entendimento de que a razão era a principal forma de vencer os dogmas e a ignorância e buscar o conhecimento verdadeiro. Elegia o conhecimento científico como a chave para alcançar as verdades do universo.
  • Liberdades individuais: A ideia de jusnaturalismo, ou direitos naturais, surgem e ganham força no século XVIII com o advento do Iluminismo. Direito natural seriam direitos que todos os seres humanos possuem pelo simples fato de serem humanos, como o direito à vida, à liberdade, à propriedade privada, liberdade religiosa e de imprensa, entre outros.
  • Antiabsolutismo: O Iluminismo tecia ferrenhas críticas ao poder absolutista, considerando perigosa a concentração de poder nas mãos de uma única pessoa, o que enfraqueceria as liberdades individuais, além de ser um modelo que prezava pela desigualdade de direitos entre as classes, com o clero e a nobreza sendo favorecidos em detrimento dos demais grupos.
  • Anticlericalismo: O domínio exercido pela Igreja sobre as mentalidades, além dos privilégios desfrutados pelos membros do clero, eram mal vistos pelos iluministas. As críticas centravam-se principalmente contra os dogmas da Igreja Católica, por entender que estes limitavam a busca pelo conhecimento, e a influência que a mesma possuía sobre questões políticas, algo que os iluministas viam como da esfera individual.
  • Liberdade econômica: O Iluminismo defendia a liberdade econômica, em contraposição ao mercantilismo até então vigente. O mercantilismo era um sistema econômico extremamente protecionista, com privilégios de comércio dado a pessoas mais próximas do rei ou de pessoas influentes. Era visto como pouco eficaz pelos iluministas, que entendiam que um mercado livre de regulamentações seria capaz de oferecer melhores produtos a melhores preços para as pessoas, graças à concorrência.

Principais pensadores do Iluminismo

O Iluminismo deu grandes pensadores, que moldaram a sociedade ocidental e exercem influência até os dias atuais:

  • Voltaire: o francês Voltaire foi um grande defensor das liberdades de expressão e religião. Acabou sendo perseguido em seu país por suas posições, exilando-se na Inglaterra.
  • Montesquieu: um raro caso de filósofo iluminista advindo da nobreza, o francês Barão de Montesquieu ficou famoso pela sua ideia de tripartição do poder. Para evitar o poder absoluto e concentrado, o mesmo deveria ser dividido em três esferas: executivo, legislativo e judiciário.
  • Rousseau: Jean-Jacques Rousseau, suíço, centrava suas reflexões na sociedade humana, entendendo o ser humano como um ser naturalmente bom, mas corrompido pela sociedade, em razão da propriedade privada. Para solucionar essa corrupção humana, advogava em favor de um “Contrato Social”, onde o Estado seria garantidor das necessidades dos seus cidadãos.
  • Diderot: o filósofo Diderot tornou-se célebre ao criar, junto com o também francês D’Alembert, a Enciclopédia, um conjunto de livros que compilava todo o conhecimento científico humano. É considerada a obra mais característica do Iluminismo.
  • John Locke: o inglês John Locke trouxe o conceito de direitos naturais, inalienáveis e universais para todos os seres humanos. Esses direitos seriam a vida, a liberdade e a propriedade privada, onde nem mesmo o monarca poderia infringir esses valores.
  • Adam Smith: o escocês Adam Smith foi o grande pensador acerca da ideia de livre mercado. Em sua obra “A Riqueza das Nações”, dizia que a busca pelo lucro incentivava a produção e, por isso, atendia as demandas das pessoas, já que o mercado se auto regulava por meio de uma “mão invisível”.

Movimentos influenciados pelo Iluminismo

O Iluminismo inspirou diversos movimentos na Europa e na América, com destaque para a Guerra Civil Inglesa e Revolução Gloriosa, que limitaram o poder real; a Revolução Francesa, que além de pôr limites ao poder real acabou com os privilégios da nobreza e do clero.

No continente americano, as Independências dos Estados Unidos e Haiti são grandes exemplos de movimentos com inspirações iluministas. A segunda, além de propor o fim do domínio europeu, aboliu a escravidão e acabou com a segregação racial no Haiti, sendo um exemplo único no mundo.

No Brasil, as Inconfidências Mineiras e Baiana foram movimentos de caráter iluminista. Ambas propunham o rompimento de sua região com a Coroa Portuguesa, sendo a Baiana defensora também do fim da escravidão.

Iluminismo no ENEM

O Enem costuma explorar debates políticos e questões sociais do período iluminista, expondo as contradições presentes em discursos ou mesmo as condições de vida no século XVIII. Interpretação de fontes na tentativa de fazer o candidato reconhecer uma característica do movimento iluminista também costuma aparecer.

TEXTO I

Macaulay enfatizou o glorioso acontecimento representado pela luta do Parlamento contra Carlos I em prol da liberdade política e religiosa do povo inglês; significou o primeiro confronto entre a liberdade e a tirania real, primeiro combate em favor do lluminismo e do Liberalismo. ARRUDA, J. J. A. Perspectivas da Revolução Inglesa. Rev. Bras. Hist., n. 7, 1984 (adaptado).

TEXTO II

A Revolução Inglesa, como todas as revoluções, foi causada pela ruptura da velha sociedade, e não pelos desejos da velha burguesia. Na década de 1640, camponeses se revoltaram contra os cercamentos, tecelões contra a miséria resultante da depressão e os crentes contra o Anticristo a fim de instalar o reino de Cristo na Terra.

HILL, C. Uma revolução burguesa? Rev. Bras. Hist., n. 7, 1984 (adaptado). A concepção da Revolução Inglesa apresentada no Texto II diferencia-se da do Texto I ao destacar a existência de:

a) pluralidade das demandas sociais.

b) homogeneidade das lutas religiosas.

c) unicidade das abordagens históricas.

d) superficialidade dos interesses políticos.

e) superioridade dos aspectos econômicos.

Item correto: A

A questão mostra a contradição entre o que era pensado pelas elites inglesas acerca dos acontecimentos que levaram à Guerra Civil e as motivações populares para que a massa dos cidadãos ingleses aderissem a esse conflito. No segundo texto, vemos a vasta gama de reivindicações levantadas pelas classes trabalhadoras e populares inglesas, o que corrobora com o item A.