Flexões do verbo: pessoa, modo, tempo e voz

Publicado em: 27/02/2023

Você, provavelmente, já sabe que alguns certames, como o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), possuem bastante foco na interpretação de textos para resolução de questões e na produção de redações. Mas você sabe de que forma a análise de determinadas classes gramaticais, a exemplo do verbo, pode aumentar a sua interpretação e a sua produção?

Nesse texto, você vai ler sobre as flexões do verbo e como elas podem ser utilizadas durante o ENEM.

Quais são as flexões dos verbos

É importante inicialmente você saber que os verbos apresentam quatro tipos de flexões

  • Tempo;
  • Modo;
  • Número;
  • Pessoa. 

Isso quer dizer que, durante a conjugação verbal, as novas formas podem apresentar as noções de cada uma dessas flexões. Por exemplo, pensando no verbo estudar, que está na forma “básica” chamada infinitivo, podemos flexioná-lo em estudavam e estudarei. Você consegue perceber que, em ambos os casos, há informações de tempo (passado no primeiro e futuro no segundo), de modo (ambos se configuram como uma certeza), de número (o primeiro aponta o plural, enquanto o segundo destaca o singular) e pessoa (3a no primeiro caso e 1a no outro)?

Isso acontece porque, durante a flexão, de modo geral, uma parte chamada radical se mantém. No exemplo visto, o radical é estud-. As demais partes que variam apresentam a flexão e as diversas informações de tempo, modo, número e pessoa. Agora, você pode estar se perguntando se todos os verbos se flexionam da mesma forma. A resposta é não. Alguns verbos, chamados regulares - como estudar -, apresentam sempre o mesmo radical, então a flexão deles é regular. Já outros, os chamados irregulares, variam no radical, de forma que a flexão também ocorra de outra forma.

Há, ainda, verbos que não possuem todas as flexões e verbos que possuem mais de um exemplo quando flexionado. Neste momento, vamos nos ater aos verbos regulares, a fim de parametrizar as flexões.

Flexão de pessoa

A flexão de pessoa se refere às pessoas do discurso, conhecidas como primeira (quem fala), segunda (com quem se fala) e terceira (sobre o que/quem se fala). Essa flexão ocorre simultaneamente à de número, que se refere ao singular e ao plural. Por isso, o verbo estudavam indica se tratar de terceira pessoa (ele), no plural (eles), enquanto o estudarei indica a primeira pessoa do singular (eu). Em ordem, as pessoas são eu, tu e ele, que podem se configurar no plural como nós, vós e eles.

Flexão de modo

Outro aspecto relevante é o modo, que se refere à posição do enunciador sobre a ação falada. Os modos são indicativo, que expressa certeza, subjuntivo, que expressa dúvida ou possibilidade, e imperativo, que expressa ordem ou pedido. Como exemplos, temos “vou estudar”, “quando eu estudar” e “vá estudar”, representando um fato certo, uma possibilidade e uma ordem, respectivamente.

Flexão de tempo

A próxima que vamos estudar é o tempo. O indicativo, de forma resumida, apresenta os três tempos: passado (também chamado de pretérito), presente e futuro. No entanto, o passado se subdivide em três estágios: perfeito, imperfeito e mais que perfeito

E o futuro se subdivide em mais dois: do presente e do pretérito. Observe o esquema a seguir:

placeholderImagem com flexões verbais

Começando pelo presente, esse é o tempo do agora. Se você fala de uma ação que você está executando no mesmo momento, o tempo utilizado é o presente. Já se você se refere ao passado, há três possibilidades.

O pretérito perfeito se refere a uma ação iniciada e concluída, ou uma ação feita uma vez, como em “Ontem eu estudei”. Já o mais-que-perfeito é uma ação iniciada e concluída antes da ação do perfeito, como em “Tal logo acordara, já arrumou o quarto”.

Em outras palavras, a primeira ação foi acordar (iniciada e concluída) e a segunda ação foi arrumar (iniciada e concluída) o quarto. Por fim, o imperfeito, como o nome sugere, é uma ação iniciada, mas não concluída, por alguma outra ação, como em “estava estudando, quando parou para almoçar”. Nesse caso, os verbos em destaque transmitem a ideia de algo que foi iniciado, mas não concluído.

O pretérito imperfeito também pode ser utilizado para ações do passado que ocorreram com bastante frequência, denotando um padrão, mas que foram interrompidas, como em “eu estudava inglês duas vezes na semana quando era criança”.

Aqui, é importante salientar que o pretérito imperfeito, além de ser muito utilizado em fábulas, também é bastante utilizado em algumas sentenças, como afirmações e pedidos, a fim de imprimir determinada polidez, isto é, uma forma de ser afável, educado ou ameno. Esse efeito de sentido causado pelo uso de um pretérito pode ser grande diferencial na interpretação de textos do ENEM.

Para concluir a flexão de tempo, temos o futuro do presente e o futuro do pretérito. Conforme o nome sugere, o primeiro caso ocorre logo após um evento do presente, e o segundo com base em um evento do passado. Para exemplificar, temos “Eu vou estudar o necessário quando chegar em casa” e “Ontem você disse que hoje iria estudar”.

O primeiro caso trata de um evento presente (chegar em casa) e o futuro após (Eu vou estudar). O segundo, de um evento no passado, destacado pelo advérbio de tempo (ontem você disse), que apresentaria uma consequência no futuro (iria estudar).

Flexão de voz

Além disso, os verbos também apresentam três vozes: ativa, passiva e reflexiva. Pense nos exemplos a seguir “o bombeiro apagou o fogo”, “o fogo foi apagado pelo bombeiro” e “as crianças se abraçam”. Perceba que, no primeiro caso, o sujeito “bombeiro” pratica a ação de apagar o fogo. No segundo, o fogo recebe a ação de ser apagado. No terceiro, as crianças praticam e recebem ao mesmo tempo, pois quem abraça (pratica) também é abraçado (recebe).

Flexões de verbo no Enem

Para concluir, observe a questão a seguir, do ENEM 2022.

Morte lenta ao luso infame que inventou a calça portuguesa. Maldito D. Manuel I e sua corja de tenentes Eusébios. Quadrados de pedregulho irregular socados à mão. À mão! É claro que ia soltar, ninguém reparou que ia soltar? Branco, preto, branco, preto, as ondas do mar de Copacabana. De que me servem as ondas do mar de Copacabana? Me deem chão liso, sem protuberâncias calcárias. Mosaico estúpido. Mania de mosaico. Joga concreto em cima e aplaina. Buraco, cratera, pedra solta, bueiro-bomba. Depois dos setenta, a vida se transforma numa interminável corrida de obstáculos. A queda é a maior ameaça para o idoso. “Idoso”, palavra odienta. Pior, só “terceira idade”. A queda separa a velhice da senilidade extrema. O tombo destrói a cadeia que liga a cabeça aos pés. Adeus, corpo. Em casa, vou de corrimão em corrimão, tateio móveis e paredes, e tomo banho sentado. Da poltrona para a janela, da janela para a cama, da cama para a poltrona, da poltrona para a janela. Olha aí, outra vez, a pedrinha traiçoeira atrás de me pegar. Um dia eu caio, hoje não.

TORRES, F. Fim. São Paulo: Cia. das Letras, 2013.

O recurso que caracteriza a organização estrutural desse texto é o(a)

A) justaposição de sequências verbais e nominais.

B) mudança de eventos resultante do jogo temporal.

C) uso de adjetivos qualificativos na descrição do cenário.

D) encadeamento semântico pelo uso de substantivos sinônimos.

E) Inter-relação entre orações por elementos linguísticos lógicos.

A alternativa A, sendo a resposta adequada, destaca como a sequência de orações absolutas, marcadas pela presença de verbo (boa parte no presente, tanto no indicativo quanto no imperativo), é relevante na análise do texto de Fernanda Torres. Perceba que as orações coordenadas curtas sugerem o ânimo chateado e eventualmente raivoso da autora.

Essa interpretação de entrelinhas, além de relevante para a resolução da questão, é de suma importância na elaboração de um texto coeso e coerente com as ideias apresentadas na proposta de redação, concorrendo para boas notas.