Flexão de voz: tipos, exemplos e como utilizar
Publicado em: 22/03/2023A classe de verbos apresenta diversas informações relevantes no estudo gramatical. Uma delas é a flexão de voz dos verbos, que é, em resumo, a informação de uma pessoa está praticando ou sofrendo a ação. Embora pareça uma informação simples e, em algumas vezes, óbvia, entender a flexão de voz é uma forma de desenvolver a habilidade de interpretação textual.
Para você ter uma ideia, de acordo com plataformas de educação focadas no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), há quase 400 questões de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias específicas de leitura e interpretação de textos entre os certames de 2009 e de 2022, totalizando mais de 30% de todas as questões de Português nesse recorte de tempo. É o assunto mais frequente em todos os ENEM.
Voz ativa
Para analisar a voz verbal, vamos estruturar uma oração simples e direta, como “o bombeiro apagou o fogo”.
Nesse exemplo, há um sujeito nítido, representado pelo sintagma “o bombeiro”. Há, também, um predicado, representado por “apagou o fogo”. Aqui, temos uma ação, representada pelo verbo apagou. Podemos ver que essa ação é praticada diretamente pelo sujeito, pois o bombeiro, ativamente, realiza a ação de apagar.
Quando há um sujeito praticando uma ação, como no caso anterior, trata-se de um caso de voz ativa. Nesse caso, como o sujeito pratica a ação, ele é considerado um sujeito agente.
De modo geral, a comunicação é feita com base em sentenças como essas, uma vez que é mais fácil compreender a informação quando temos um sujeito ativo praticando determinada ação.
Voz passiva
Podemos, também, reescrever o exemplo anterior para “o fogo foi apagado pelo bombeiro”. Agora, o sujeito é “o fogo” e o predicado é “foi apagado pelo bombeiro”. Aqui, há algumas informações importantes a serem analisadas.
A primeira delas é que o sujeito “o fogo” agora sofre a ação, já que “o bombeiro” é quem pratica a ação de apagar. Com isso, sabemos que o sujeito, então, é um sujeito paciente. Já o termo “o bombeiro”, que pratica a ação mas não é sujeito, é chamado de agente da passiva, ou seja, aquele que pratica a ação na voz passiva.
Já a forma verbal agora se apresenta com dois verbos: “foi apagado”, que explicitam a noção de paciente, sendo, portanto, voz passiva. A forma passiva é formada com um dos verbos ser, estar e ficar, seguido de particípio. Em outras palavras, temos o verbo ser (conjugado no pretérito perfeito do indicativo) mais o verbo apagar (no particípio passado).
A voz passiva se subdivide em dois tipos, sendo a passiva analítica e a passiva sintética.
Voz passiva analítica
A analítica é quando ocorre a estrutura sujeito paciente + verbo + agente da passiva, conforme o exemplo dado “o fogo (sujeito) foi apagado (verbo) pelo bombeiro (agente da passiva). De forma geral, é a formação mais comum da voz passiva.
Voz passiva sintética
A sintética é quando há a presença do pronome se. Por isso, a voz passiva sintética também é chamada de passiva pronominal. Como exemplo, temos a construção bastante usual do dia a dia “vende-se casa”. Perceba que, nesse caso, a casa sofre a ação de ser vendida. Uma informação relevante aqui é que o verbo só vai para o plural caso o objeto dele também seja plural. Isto é, “vende-se casa” ou “vendem-se casas”.
Aqui, cabe fazer uma breve distinção. É preciso diferenciar voz passiva de passividade.
A voz passiva é uma forma em que se apresenta o verbo para indicar que a pessoa recebe a ação. Já a passividade é o fato de a pessoa receber determinada ação. Na famosa construção “osso duro de roer”, o “de roer” equivale a “ser roído”. No entanto, “ser roído” não é exatamente sofrer uma ação, e sim receber uma ação. A prova é tanta que a construção está na voz ativa “de roer”.
Como converter voz ativa em voz passiva
Agora que você já conhece as vozes ativa e passiva, que tal compreender como mudar de uma para outra (quando possível)?
Considerando a forma sujeito (o bombeiro) + verbo (apagou) + complemento (o fogo) da voz ativa, podemos ver que a conversão ocorre com base em sujeito (o fogo - que era objeto) + verbo (foi apagado - agora uma locução verbal) + agente da passiva (pelo bombeiro - que era sujeito).
Voz reflexiva
Por fim, há também a voz reflexiva. Nesse caso, é quando o sujeito gramatical é, ao mesmo tempo, agente e paciente. No exemplo “os meninos se abraçam”, temos o sujeito “os meninos” e o predicado “se abraçam”. Perceba que, nesse caso, o sujeito “os meninos” é ativo, pois ele pratica a ação de abraçar. Ao mesmo tempo, o sujeito “os meninos” também é passivo, já que ele sofre a ação de ser abraçado.
Flexão de voz no Enem
Voltando ao tópico de interpretação, observe a questão a seguir, do ENEM de 2022.
PALAVRA - As gramáticas classificam as palavras em substantivo, adjetivo, verbo, advérbio, conjunção, pronome, numeral, artigo e preposição. Os poetas classificam as palavras pela alma porque gostam de brincar com elas, e para brincar com elas é preciso ter intimidade primeiro. É a alma da palavra que define, explica, ofende ou elogia, se coloca entre o significante e o significado para dizer o que quer, dar sentimento às coisas, fazer sentido. A palavra nuvem chove. A palavra triste chora. A palavra sono dorme. A palavra tempo passa. A palavra fogo queima. A palavra faca corta. A palavra carro corre. A palavra “palavra” diz. O que quer. E nunca desdiz depois. As palavras têm corpo e alma, mas são diferentes das pessoas em vários pontos. As palavras dizem o que querem, está dito, e pronto.
FALCÃO, A. Pequeno dicionário de palavras ao vento. São Paulo: Salamandra, 2013 (adaptado).
Esse texto, que simula um verbete para palavra “palavra”, constitui-se como um poema porque
A) tematiza o fazer poético, como em “Os poetas classificam palavras pela alma”.
B) utiliza o recurso expressivo da metáfora, como em “As palavras têm corpo e alma”.
C) valoriza a gramática da língua, como em “substantivo, adjetivo, verbo, advérbio, conjunção”.
D) estabelece comparações, como em “As palavras têm corpo e alma, mas são diferentes das pessoas”.
E) apresenta informações pertinentes acerca do conceito de “palavras”, como em “As gramáticas classificam as palavras”.
Perceba que, nesse caso, além da interpretação textual superficial daquilo que é dito, é preciso compreender, também, a visão da pessoa que escreveu o texto em entender as palavras como agentes. Essa ideia é subentendida pelo uso da voz ativa quando se refere às palavras citadas, como em “a palavra nuvem chove”, sendo praticante da ação de chover. Com isso, é adequado afirmar que a alternativa B é a correta.
Dessa forma, podemos ver que o estudo verbal é, sim, relevante para os diversos certames nacionais e para a melhoria da sua capacidade, enquanto usuário de língua portuguesa, de compreender as nuances das situações comunicativas.