Filosofia Moderna de Maquiavel: origem, características e pensamentos

Publicado em: 22/12/2022

O fim da Idade Média foi marcado pela ascensão do movimento de renovação intelectual conhecido como Renascimento. Nesse período, grandes pensadores buscaram se afastar das formas tradicionais de pensamento próprias da época medieval e que dificultavam um estudo mais preciso da natureza e do ser humano.

Essas novas reflexões baseadas, sobretudo, na valorização das capacidades intelectuais do homem desenrolaram-se tanto na área das ciências naturais quanto no campo do conhecimento filosófico, dando origem, assim, à chamada Filosofia Moderna. Esse novo momento da Filosofia foi marcado pela construção de métodos racionais de estudo da realidade cada vez mais precisos e afastados das influências religiosas que perduraram durante a Idade Média.

Nesse contexto, o campo da Política foi agitado pelas ideias trazidas pelo filósofo italiano Nicolau Maquiavel (1469 - 1527) que, influenciado pela postura racionalista da Filosofia Moderna, buscou desenvolver um olhar realista sobre as relações de poder que os seres humanos desenvolvem nas sociedades.

Contexto histórico da Filosofia Moderna

Com o advento do Renascimento, os intelectuais e artistas europeus buscaram resgatar o esplendor e a inteligência das produções greco-romanas, cuja principal característica era a centralização do pensamento em torno do ser humano e de suas capacidades. Na política, essa tendência trouxe grandes inspirações da organização social e do Direito praticadas pelos romanos para a sociedade da época.

Essas transformações ocorreram em um contexto histórico marcado por grandes acontecimentos, como a chegada dos europeus à América e a expansão comercial marítima motivada pelo início das Grandes Navegações.

Características da Filosofia Moderna

Durante a Modernidade, a Filosofia passou a se preocupar com a necessidade do estabelecimento de métodos capazes de guiar o pensamento humano em direção às verdades sobre a natureza. Esse esforço estava alinhado à necessidade do livre uso da razão, algo que não era possível durante o período medieval devido à larga influência que a Igreja exercia sobre os intelectuais da época.

A partir do Renascimento, as ciências e a Filosofia passaram a ganhar maior autonomia em suas pesquisas acerca da realidade. Desse modo, um dos principais problemas enfrentados pelos intelectuais do início da Modernidade foi a questão do conhecimento. Buscando compreender de que forma os nossos saberes sobre o mundo são constituídos, duas correntes epistemológicas se formaram no referido momento: o Racionalismo e o Empirismo.

Enquanto uma posicionava a razão como a única fonte segura e confiável de acesso ao conhecimento, a outra defendia que nossos saberes têm sua gênese a partir de nossa experiência sensível com a natureza.

Biografia de Nicolau Maquiavel

Nicolau Maquiavel foi um filósofo, historiador e político que viveu em uma Itália bastante diferente da que conhecemos atualmente. Em sua época, a nação não era um território unificado, pois era constituída por pequenos reinos com diferentes interesses políticos e que, constantemente, entravam em conflito entre si.

Maquiavel entrou para a vida política aos 29, assumindo um cargo na corte do nobre Lourenço de Médici, um poderoso estadista da época. Em sua atividade política, o filósofo acompanhou, de perto, as guerras e violentos confrontos decorrentes das disputas entre os fragmentados reinos que formavam a Itália. Isso contribuiu para o pensamento de Maquiavel, levando-o a desenvolver um olhar realista sobre os fenômenos políticos.

Após 14 anos de serviço no cargo em que ocupava, Maquiavel foi afastado da vida pública devido a intrigas e discordâncias em que se envolveu. Nesse período que passou distante de seu ofício, o filósofo escreveu suas principais obras de teoria política, a saber, O Príncipe e Discursos sobre a última década de Tito Lívio.

Influências de Maquiavel

Maquiavel teve seu pensamento filosófico fortemente influenciado pelas experiências que ele viveu em sua época de atuação política. As circunstâncias violentas e atribuladas que perpassavam o contexto político da Itália em sua época o levaram a constatar que os seres humanos são capazes de fazer tudo o que for possível para satisfazerem os seus interesses.

Traições, mentiras, manipulação, etc. Todos esses artifícios poderiam ser utilizados por qualquer indivíduo quando lhe fosse necessário. Diante disso, Maquiavel passou a encarar a política e seus desdobramentos da maneira em que eles realmente são, e não como deveriam ser.

Obras e teorias de Maquiavel

Em sua principal obra, intitulada como O Príncipe, Maquiavel buscou definir que ações um Príncipe deveria tomar para se manter no poder e, assim, conservar a paz em uma nação.

O filósofo defendeu que os princípios morais que devem reger as atitudes e escolhas do governante devem ser diferentes daqueles que guiam o comportamento dos demais cidadãos. Isso se deve ao fato de que as ações do governante encontram-se em um contexto delicado e que envolvem questões bastante diferentes daquelas vivenciadas pelas pessoas comuns.

Ao Príncipe, cabe o dever de manter a paz a qualquer custo. Além disso, segundo Maquiavel, o governante deve comandar a nação com pulso firme, tomando suas decisões sem hesitar. Essa ideia corresponde ao conceito de Virtú. Cabe ao Príncipe também possuir a capacidade de saber aproveitar bem os momentos oportunos para tomar suas decisões políticas, não deixando boas oportunidades passarem despercebidas.

Essa noção corresponde ao conceito de Fortuna. Para que tudo isso fosse possível dentro do campo da política, Maquiavel defendia que esta deveria possuir autonomia até mesmo em relação à religião. Os assuntos políticos devem ser tratados e abordados apenas por aqueles que se dedicam à sua vivência.

Citações de Maquiavel

“A ambição do homem é tão grande que, para satisfazer uma vontade presente, não pensa no mal que daí a algum tempo pode resultar dela”;

“Nasce daqui uma questão: se vale mais ser amado que temido ou temido que amado. Responde-se que ambas as coisas seriam de desejar; mas porque é difícil juntá-las, é muito mais seguro ser temido que amado, quando haja de faltar uma das duas”;

“Os homens têm menos escrúpulos em ofender quem se faz amar do que quem se faz temer, pois o amor é mantido por vínculos de gratidão que se rompem quando deixam de ser necessários, já que os homens são egoístas; mas o temor é mantido pelo medo do castigo, que nunca falha”.

MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. 2ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 1996.

Filosofia Moderna de Maquiavel no Enem

As questões de Filosofia do ENEM que abordam o pensamento de Maquiavel costumam explorar as reflexões do autor acerca da especificidade da moral que deve reger as ações do governante e as características reais do comportamento humano dentro do âmbito da política.

Para se preparar para questões que abordem as ideias de Maquiavel, é preciso estar atento ao contexto histórico e político vivenciado pelo autor, conhecer as suas principais teses e sempre realizar uma leitura atenta do texto-base apresentado.

O que cai em Filosofia no ENEM no que diz respeito às ideias de Nicolau Maquiavel?

  • Autonomia da política em relação à religião;
  • Virtudes de um bom Príncipe;
  • Distinção entre moral do cidadão e moral do Príncipe;
  • Virtú e Fortuna;
  • Comportamento dos seres humanos em sociedade.

ENEM 2019

Para Maquiavel, quando um homem decide dizer a verdade pondo em risco a própria integridade física, tal resolução diz respeito apenas a sua pessoa. Mas se esse mesmo homem é um chefe de Estado, os critérios pessoais não são mais adequados para decidir sobre ações cujas consequências se tornam tão amplas, já que o prejuízo não será apenas individual, mas coletivo. Nesse caso, conforme as circunstâncias e os fins a serem atingidos, pode-se decidir que o melhor para o bem comum seja mentir.

ARANHA, M. L. Maquiavel: a lógica da força. São Paulo: Moderna, 2006 (adaptado).

O texto aponta uma inovação na teoria política na época moderna expressa na distinção entre:

a) idealidade e efetividade da moral.

b) nulidade e preservabilidade da liberdade.

c) ilegalidade e legitimidade do governante.

d) verificabilidade e possibilidade da verdade.

e) objetividade e subjetividade do conhecimento.