Filosofia Moderna: contexto, ideias, filósofos

Publicado em: 07/12/2022

A Filosofia Moderna surgiu no início do século XV e se manifestou até o século XVIII, revolucionando o pensamento medieval da época – marcado pelo teocentrismo e pela ligação com a fé e os dogmas cristãos.

Para entender como isso aconteceu, é essencial considerar que essa fase filosófica se desenvolveu em um período de grande efervescência intelectual, política, econômica, cultural e social – no qual se destacaram acontecimentos como o Renascimento, as Grandes Navegações, a formação dos primeiros Estados Nacionais, a Reforma Protestante, o surgimento da burguesia e a consolidação de regimes absolutistas.

Foi neste cenário de grandes avanços científicos e de intensas mudanças sociais que a Filosofia Moderna deu lugar a um pensamento racional, antropocêntrico e científico, que contribuiu significativamente para o posterior desenvolvimento do Iluminismo.

Diante de tamanha influência, não é surpresa nenhuma que tal fase filosófica seja assunto bastante recorrente nas provas do ENEM, sendo abordada tanto de modo específico quanto multidisciplinar nas questões da área de Ciências Humanas.

O pensamento moderno e a busca pela verdade inquestionável

Retomando o pensamento da Filosofia Clássica, a primeira geração da Filosofia Moderna se debruçou sobre questões relacionadas à mente e ao corpo humano – buscando compreender a formação e os limites do conhecimento, além de questionar como seria possível atingir uma verdade absoluta.

Depois, em um segundo momento, os filósofos modernos mergulharam em questões relacionadas à política e à sociedade – levantando discussões sobre os governos absolutistas e liberais, o papel da burguesia no contexto Pós-Revolução Industrial e o surgimento de novas relações socioeconômicas em tal período.

Fundamentadas nos ideais do Humanismo e do Antropocentrismo, de modo geral, as correntes filosóficas modernas se destacaram por colocar o ser humano como objeto central de seus estudos e se caracterizaram tanto pelo ceticismo com relação à metafísica e ao pensamento dogmático, quanto pela valorização da razão e de uma vida política ativa.

Racionalismo e Empirismo: a epistemologia na Filosofia Moderna

A Filosofia Moderna deu origem a diferentes correntes de pensamento, dentre as quais se destacam o Racionalismo e o Empirismo – escolas que se dedicaram ao debate da epistemologia, tendo concepções distintas sobre a origem do conhecimento humano.

O Racionalismo e o conhecimento como capacidade inata do ser humano

O Racionalismo surge a partir das concepções dos filósofos René Descartes e Gottfried Wilhelm Leibniz, tendo como princípio norteador a crença de que a razão e a intuição seriam os únicos meios seguros de adquirir conhecimento verdadeiro. Por esse motivo, os racionalistas recusavam o aprendizado obtido por meio das sensações e das experiências – já que elas poderiam ser interpretadas de modo errado, levando ao engano.

Além disso, resgatando algumas das concepções platônicas, os filósofos racionalistas defendiam a tese do inatismo. Assim, segundo eles, as pessoas já nasceriam com todos os conhecimentos pré-concebidos e, ao longo da vida, desenvolveriam suas capacidades inatas mediante ao esforço intelectual, à dedução dos fatos e às leis universais da razão.

O Empirismo e o conhecimento adquirido por meio das experiências

Já o Empirismo, por outro lado, apresentava uma tese totalmente contrária à da escola racionalista, recusando a intuição e a ideia de inatismo. Representada por pensadores como Thomas Hobbes, John Locke e David Hume, essa escola filosófica foi baseada nas concepções aristotélicas e defendia que as ideias e o conhecimento verdadeiro só seriam possíveis mediante à experimentação, ao método científico e à indução.

Para os filósofos empiristas, a razão também teria um papel importante na compreensão das práticas e vivências, mas essa racionalidade só seria desenvolvida por meio da experimentação. Além disso, eles ainda defendiam que toda hipótese ou teoria só poderia ser considerada um conhecimento real se fosse testada e observada, para, então, ser comprovada.

Os principais filósofos modernos

A Filosofia Moderna ficou marcada pelas teses de diversos pensadores de grande renome, mas cinco deles merecem destaque devido à influência que tiveram para o desenvolvimento do Racionalismo e do Empirismo – sendo, por isso, muito abordados nas provas do ENEM: René Descartes, Gottfried Wilhelm Leibniz, Thomas Hobbes, John Locke e David Hume.

René Descartes (1596-1650)

Considerado o “pai” da Filosofia Moderna, Descartes desenvolveu o método cartesiano, defendendo o ceticismo diante do conhecimento obtido por meio do senso comum e das experiências cotidianas. Foi por meio desse exercício da dúvida de tudo que o rodeava que o autor de “Discurso do Método” chegou à sua primeira verdade inquestionável: “penso, logo, existo”.

Gottfried Wilhelm Leibniz (1646-1716)

Para explicar a origem do conhecimento, Leibniz desenvolveu o conceito das mônadas, que seriam fragmentos de ideias separadas que se juntariam para formar o conhecimento racional. Além disso, afirmava que o que diferenciava as pessoas dos demais animais seria exatamente a capacidade de raciocínio e de entender o motivo de agirem de determinada maneira.

Thomas Hobbes (1588-1679)

Recorrendo às teorias aristotélicas e às causas mecânicas para explicar o funcionamento do corpo e da mente humana, Hobbes defendia que o conhecimento seria construído gradualmente – partindo das sensações e passando pelas percepções, pela imaginação e pela memória até se tornarem experiências completas.

John Locke (1632-1704)

Locke afirmava que as pessoas nasciam como “tábulas rasas” – ou, simplesmente, como folhas em branco –, sem qualquer tipo de conhecimento prévio, e que, ao longo da vida, a mente humana seria preenchida conforme as experiências adquiridas.

David Hume (1711-1776)

Já Hume defendia que as ideias seriam fruto unicamente das experiências obtidas por meio dos sentidos e que, quanto mais ricas e diversas fossem essas vivências, mais conhecimento as pessoas teriam.

Mas, afinal, como a Filosofia Moderna cai no ENEM?

Considerando as relações da Filosofia Moderna com o contexto histórico em que tal fase filosófica se manifestou, as provas do ENEM costumam abordar o assunto de maneiras variadas.

A primeira delas, de modo mais contextualizado, chamando atenção aos desdobramentos causados pelo pensamento antropocêntrico e racional no período em questão. Já a segunda, é de modo mais específico, trazendo conceitos referentes às escolas da Filosofia Moderna e levantando discussões sobre as teses dos principais representantes de cada uma delas.

Além disso, também existe a grande possibilidade de o assunto ser trabalhado mediante à análise e à interpretação de trechos de obras de filósofos modernos, como pode ser percebido nos exemplos a seguir:

ENEM 2021

Na primeira meditação, eu exponho as razões pelas quais nós podemos duvidar de todas as coisas e, particularmente das coisas materiais, pelo menos enquanto não tivermos outros fundamentos nas ciências além dos que tivemos até o presente. Na segunda meditação, o espírito reconhece, entretanto, que é absolutamente impossível que ele mesmo, o espírito, não exista.

DESCARTES, R. Meditações metafísicas. São Paulo: Abril Cultural, 1973 (adaptado).

O instrumento intelectual empregado por Descartes para analisar os seus próprios pensamentos tem como objetivo:

a) identificar um ponto de partida para a consolidação de um conhecimento seguro.

b) observar os eventos particulares para a formação de um entendimento universal.

c) analisar as necessidades humanas para a construção de um saber empírico.

d) estabelecer uma base cognitiva para assegurar a valorização da memória.

e) investigar totalidades estruturadas para dotá-las de significação.

Resposta: A.

Por meio da interpretação do trecho selecionado, é esperado que o aluno infira que, para Descartes, para se alcançar um conhecimento seguro, é necessário “duvidar de todas as coisas” e utilizar um método investigativo racional, partindo de um ponto que seja inquestionável.