Fatos sociais: o que são, Émile Durkheim e exemplos

Publicado em: 22/12/2022

O sociólogo francês Émile Durkheim foi o primeiro a desenvolver a Sociologia como disciplina acadêmica, sendo considerado um dos seus autores clássicos. Em suas obras, procurou discutir o objeto de estudo da nova disciplina e seus métodos para explicar os fenômenos sociais, buscando distingui-la de outras disciplinas. 

De acordo com Durkheim, o sociólogo deveria estudar a vida social de forma objetiva, desprovida de juízo de valores e de tendências políticas. Orientado por essas referências, ele definiu a necessidade de a Sociologia estudar os fatos sociais como coisas.

Émile Durkheim e os Fatos Sociais

Durkheim, bastante influenciado pelas ciências naturais, buscou encontrar leis gerais que regessem a sociedade e a mantivesse coesa. Depois da análise de modelos diferentes de sociedades, ele descobriu que o gerador dessa coesão seria o consenso em torno das regras assumidas como fundamentais pelo grupo social para manter a sociedade unida. 

Assim, a adesão às normas, às regras e aos valores sociais, que são compartilhados pelo grupo, formam um padrão de comportamento. Esse padrão social de conduta é o principal objeto de estudo de Durkheim. Ele acreditava que o sociólogo devia buscar por padrões de regularidade, denominados fatos sociais

O sociólogo desenvolveu sua teoria em importantes obras, como:

  • Elementos de Sociologia (1889);
  • A Divisão do Trabalho Social (1893);
  • As Regras do Método Sociológico (1895).

Fatos Sociais

Segundo Durkheim, os fatos sociais eram a principal preocupação de estudo da Sociologia e podem ser denominados como o conjunto de hábitos praticados pelas pessoas, por meio de suas ações, que permitem a identificação de uma consciência coletiva, a qual age por trás dos indivíduos.   De acordo com o sociólogo francês, os fatos sociais são capazes de condicionar e influenciar os comportamentos e atitudes dos indivíduos na sociedade em que estão inseridos, sendo a socialização, o aprendizado dessas maneiras de agir, pensar e sentir em uma dada estrutura social.

Características dos fatos sociais

Os fatos sociais possuem três características: 

  • são coercitivos, ou seja, exercem uma força sobre os membros de uma sociedade, levando-os a respeitar normas e regras sociais; 
  • são anteriores ou exteriores, pois quando o indivíduo nasce é inserido em uma estrutura social que lhe antecede; 
  • são gerais, isto é, dizem respeito a todos os indivíduos de uma determinada sociedade, uma vez que os atos se repetem constantemente entre os seus membros.

Exemplos de fatos sociais

De acordo com Durkheim, a religião pode ser considerada um fato social, afinal, em uma crença religiosa, os gestos, atos e atividades espirituais são resultado de uma coerção social acolhida ou imposta aos seus seguidores, por meio de regras e normas institucionais. 

Além disso, tem o caráter exterior aos indivíduos, ou seja, não depende de vontades ou escolhas pessoais para sua existência, e é generalizado na sociedade.

Fatos sociais: Normal e Patológico

Os fatos sociais podem ser normais ou patológicos, a partir dos efeitos considerados positivos e negativos na sociedade. 

Normais

Os normais são aqueles que se desenrolam da evolução da sociedade, dentro de uma norma comum, de um padrão de comportamento compartilhado, que visa o aprimoramento dos indivíduos e o aperfeiçoamento da coesão na sociedade. O fato social normal mantém em funcionamento os laços solidários que unem os indivíduos de um grupo.

Patológicos

Já o fato social patológico é aquele que se desenvolve fora da normalidade, como se fosse uma doença. Ele é perigoso, uma vez que foge das normas e do comportamento da maioria das pessoas. Para analisar esse tipo de fato social, devemos levar em consideração dois critérios: o da exclusividade e o da incidência. 

Ou seja, se um crime se tornar muito comum em uma sociedade e desestabilizar sua ordem, como por exemplo o número de assassinatos causados por policiais no Brasil, que vai além dos números que ocorrem em países com a mesma forma de governo, costumes e economia, pode ser considerado patológico

O suicídio como um fato social 

Durkheim acreditava que cada sociedade estaria suscetível a fornecer uma quantidade determinada de mortes voluntárias, no entanto, o que interessa à Sociologia sobre o suicídio é, na verdade, a análise de todo o processo social, dos fatores sociais que agem sobre o grupo, sobre o conjunto da sociedade. 

De acordo com o sociólogo, cada sociedade possui, a cada momento histórico, uma atitude definida em relação ao suicídio.

Os 3 tipos de suicídio de Émile Durkheim

Suicídio egoísta

O suicídio egoísta é aquele no qual o ego individual é preponderante ao ego social, ou seja, há uma individualização ilimitada. Há um enfraquecimento nas relações entre os indivíduos e a sociedade, fazendo com que o indivíduo não veja mais sentido na vida.

Suicídio altruísta

O suicídio altruísta é aquele no qual o indivíduo sente-se no dever de fazê-lo em função de um dos grupos sociais a pertence. Podemos citar como exemplo os kamikazes japoneses.

Suicídio anômico

O suicídio anômico é aquele que acontece em uma situação de anomia social, ou seja, quando há ausência de regras na sociedade, gerando o caos, fazendo com que a normalidade social não seja mantida. Ele acontece, por exemplo, em momentos de crise política e econômica.

Émile Durkheim e os Fatos sociais para o Enem

O Enem costuma cobrar, em suas questões, os principais conceitos de Durkheim, como fatos sociais, fatos sociais normais e patológicos e os tipos de suicídio.

Enem 2016

A sociologia ainda não ultrapassou a era das construções e das sínteses filosóficas. Em vez de assumir a tarefa de lançar luz sobre uma parcela restrita do campo social, ela prefere buscar as brilhantes generalidades em que todas as questões são levantadas sem que nenhuma seja expressamente tratada. Não é com exames sumários e por meio de intuições rápidas que se pode chegar a descobrir as leis de uma realidade tão complexa. Sobretudo, generalizações às vezes tão amplas e tão apressadas não são suscetíveis de nenhum tipo de prova.

DURKHEIM, E. O suicídio: estudo de sociologia. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

O texto expressa o esforço de Émile Durkheim em construir uma sociologia com base na:

a) vinculação com a filosofia como saber unificado.     b) reunião de percepções intuitivas para demonstração.     c) formulação de hipóteses subjetivas sobre a vida social.     d) adesão aos padrões de investigação típicos das ciências naturais.   

e) incorporação de um conhecimento alimentado pelo engajamento político.      Resposta:

[D]   A sociologia durkheimiana pega emprestado das ciências naturais seu modelo de análise científica. Assim é que Durkheim procura tornar a sociologia uma ciência objetiva, com um objeto de análise (fato social) é um método (método sociológico).