Escola de Frankfurt: contexto, objetivos, autores

Publicado em: 07/12/2022

A Escola de Frankfurt foi uma corrente de pensamento filosófico e sociológico formada, na década de 1930, por pensadores associados ao Instituto para a Pesquisa Social da Universidade de Frankfurt. Recusando o modelo cartesiano utilizado pelas correntes positivistas, essa escola buscava um novo modelo de análise social por meio da Teoria Crítica, propondo a revisão do marxismo e uma ampla análise da sociedade da época – unindo, para isso, diferentes campos do saber.

Discutindo as mudanças sociais causadas pelo capitalismo a partir da Revolução Industrial, os pensadores frankfurtianos desenvolveram conceitos que influenciaram fortemente o pensamento moderno. Mantendo-se extremamente atuais, tais análises servem de base para a compreensão dos efeitos do processo de Globalização, das mudanças nas relações de trabalho e do papel da Mídia nas diferentes modalidades de dominação e manipulação social – que se intensificaram a partir da metade do século XX.

Diante de tamanha importância, os conceitos desenvolvidos pela Escola de Frankfurt são um dos assuntos mais recorrentes nas provas de Ciências Humanas do ENEM, permeando questões de diferentes componentes curriculares.

A Teoria Crítica, a Indústria Cultural e a Cultura de Massa: as bases da Escola de Frankfurt

Fundada por Horkheimer, Adorno e Pollock, a Escola de Frankfurt se desenvolveu em um contexto de grande turbulência social e econômica – causada pelos desdobramentos da Primeira Guerra Mundial, pela Crise de 1929, pela ascensão da União Soviética e pelos avanços tecnológicos do período.

Influenciados pelas teses de Marx, Kant, Hegel, Weber, Freud e Lukács, os pensadores frankfurtianos recusaram os pensamentos Iluminista e Positivista e se debruçaram sobre diferentes aspectos da sociedade – a qual, para eles, passava por uma verdadeira fase de regresso, provocada pelo capitalismo. Diante de tal situação, eles propunham a necessidade de identificar e combater as bases da dominação social – o que só poderia ser alcançado por meio da análise promovida pela Teoria Crítica.

Segundo Adorno e Horkheimer, na obra “Dialética do esclarecimento”, essa dominação era promovida pela grande mídia, que se utilizava da padronização do entretenimento e da publicidade para criar uma verdadeira Indústria Cultural. Como resultado disso, surgia o conceito da Cultura de Massa – uma categoria inautêntica e corrompida das Artes, produzida em larga escala pelo capitalismo para obter lucro e, ao mesmo tempo, servir como método de controle e alienação da sociedade.

Para além de tais aspectos, a Escola de Frankfurt ainda se dedicou a debates acerca de questões políticas, econômicas, artísticas, psicanalíticas e educacionais – sempre buscando encontrar soluções para os conflitos identificados.

Dos vários campos do saber: os principais pensadores frankfurtianos

Apesar de compartilharem da mesma base de pensamento, os pensadores da Escola de Frankfurt podem ser divididos em três gerações – sendo a última vigente até os dias de hoje. A primeira delas ficou marcada pelas teses de Max Horkheimer, Theodor Adorno, Friedrich Pollock, Herbert Marcuse e Walter Benjamin. Já a segunda tem Jürgen Habermas como principal representante.

Max Horkheimer (1895-1973)

Influenciado pelas teorias de Kant e Marx, Horkheimer defendia que a Teoria Crítica seria capaz de identificar, questionar e combater as estruturas de poder que causam os problemas sociais – alterando a realidade e, assim, libertando a humanidade das condições que a escravizam.

Para isso, ele afirmava a necessidade de contextualizar os fenômenos sociais, se afastando da Teoria Tradicional e da razão instrumental – as quais se limitavam à coleta e à classificação de dados sociais, contribuindo para a manutenção dos padrões normativos.

Theodor Adorno (1903-1969)

Tomando por base a Dialética e a Psicanálise, Adorno foi um grande crítico da sociedade de mercado, do progresso da dominação técnica e dos prejuízos causados pelo capitalismo às relações sociais e à cultura. Para ele, além de provocar a mecanização humana, a Indústria Cultural afetava ainda o modelo de educação da época, causando a banalização do conhecimento e uma alienação social – o que só poderia ser evitado por meio do desenvolvimento do senso crítico.

Friedrich Pollock (1894-1970)

Influenciado pela teoria marxista, Pollock desenvolveu a vertente político-econômica da Teoria Crítica e se debruçou sobre o Capitalismo de Estado e a crise global ocorrida após a Primeira Guerra Mundial. Além disso, ele também se dedicou aos estudos sobre a automação característica da Segunda Revolução Industrial, levantando discussões sobre os impactos econômicos causados por ela e suas relações com a obsolescência do trabalhador e o desemprego.

Para Pollock, o único meio de acabar com os prejuízos da automação e de alcançar um sistema econômico regulado e livre de crises seria adotando uma economia planificada e estatizada.

Herbert Marcuse (1898-1979)

Autor da obra “O homem unidimensional”, Marcuse criticava o capitalismo, a mentalidade mercantilista e o desenvolvimento tecnológico extremo – o qual, segundo ele, seria um dos principais meios de dominação e alienação social. Diante disso, Marcuse acreditava que tanto a burguesia quanto o proletariado seriam agentes de manutenção do status quo – cabendo, portanto, aos grupos marginalizados o papel de questionar as normas sociais para fugir do racionalismo moderno.

Walter Benjamin (1892-1940)

Opondo a teoria marxista às filosofias burguesas, Benjamin denunciou o fato de as classes dominantes construírem um historicismo que excluía a realidade dos “vencidos”. Além disso, ele se mostrava muito pessimista com a perseguição desenfreada à ideologia do progresso e à suposta evolução da civilização, considerando-as verdadeiras catástrofes para a sociedade.

Jürgen Habermas (1929)

Criticando o Positivismo Lógico, Habermas levantou discussões sobre a Epistemologia, a racionalização, a Teoria Social, o Estado de direito e a democracia nas sociedades capitalistas. Desenvolvendo os conceitos da “Ação Comunicativa” e da “Democracia Deliberativa”, ele propôs que as decisões políticas só seriam legítimas se estivessem de acordo com a vontade pública – a qual deveria contemplar as necessidades de todos os cidadãos, servindo como meio de emancipação social.

Mas, afinal, como a Escola de Frankfurt cai no ENEM?

Diante da atualidade das discussões levantadas pela Escola de Frankfurt, os conceitos desenvolvidos por essa corrente de pensamento são abordados tanto direta quanto indiretamente não só nas questões do componente curricular de Filosofia, como também de Sociologia, Geografia e Atualidades. De modo geral, tais assuntos costumam ser trabalhados a partir do exercício de análise e interpretação de texto, como pode ser percebido nos exemplos a seguir:

ENEM 2021

Por força da industrialização da cultura, desde o começo do filme já se sabe como ele termina, quem é recompensado e, ao escutar a música, o ouvido treinado é perfeitamente capaz, desde os primeiros compassos, de adivinhar o desenvolvimento do tema e sente-se feliz quando ele tem lugar como previsto.

ADORNO, T. W.; HORKHEIMER, M. Dialética do esclarecimento: fragmentos filosóficos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2009.

A crítica ao tipo de criação mencionada no texto teve como alvo, no campo da arte, a:

a) burocratização do processo de difusão.

b) valorização da representação abstrata.

c) padronização das técnicas de composição.

d) sofisticação dos equipamentos disponíveis.

e) ampliação dos campos de experimentação.

Resposta: C.

Ao interpretar o trecho selecionado, espera-se que os alunos infiram que Adorno e Horkheimer denunciam a padronização das técnicas de composição das obras culturais, como se seguissem uma mesma “receita” – fazendo com que “desde o começo do filme” já se saiba “como ele termina”.