A divisão social do trabalho: origem, histórico e como cai no Enem
Publicado em: 09/11/2023A Divisão Social do Trabalho é uma ideia que se diz respeito à maneira como as tarefas e/ou as funções de trabalho são divididas entre os indivíduos que compõem uma sociedade. Trata-se de uma característica que diz sobre o nível de especialização das pessoas que são distribuídas entre diferentes atividades, o que ocasiona uma interdependência entre essas atividades e também um aumento da produtividade. Porém, o trabalhador acaba perdendo a noção do processo produtivo todo.
A Divisão Social do Trabalho
Nas primeiras fases de desenvolvimento das sociedades, a divisão do trabalho era definida, basicamente, por sexo e por faixa etária. Com o advento da agricultura, o trabalhador agrícola passou a ser diferenciado do que cuidava dos animais, o que foi criando o início da propriedade privada. Após isso, vieram os artesãos, os trabalhadores dedicados à manufatura, a atividade mercantil e o comércio.
Contexto histórico da Divisão Social do Trabalho
O crescimento do comércio, o desenvolvimento do sistema capitalista e o grande impulsionamento da produção industrial foram fatores que geraram uma demanda de altas e rápidas produções, o que revisitou a necessidade de se especializar as tarefas para que pudesse se produzir cada vez mais em cada vez menos tempo.
Características da Divisão Social do Trabalho
Na atualidade, cada vez mais se fala em alienação do trabalho, sendo o fato de o trabalhador se tornar desconhecedor do processo produtivo do qual ele participa, levando-o a conhecer somente a etapa pela qual ele é responsável, e, muitas vezes, não o deixando saber qual é o produto final do seu trabalho, o que o deixa, também, limitado. Fala-se que o ideal é ter pessoas que consigam desempenhar atividades distintas, que possuam capacidades diversificadas, possibilitando mais flexibilização.
Como já visto, a divisão do trabalho é a especialização e a divisão de tarefas. Isso faz com que os trabalhadores adquiram uma capacidade de realizar tarefas com mais agilidade, pois ele se torna treinado por fazer o mesmo repetidamente, o que lhes confere, também, uma agilidade ao executar os seus movimentos. Tudo isso leva a uma diminuição no tempo de realizar determinada tarefa, fazendo-o aumentar sua produção à medida que esse tempo diminui. Isso, para o sistema capitalista, é muito conveniente.
Para uma sociedade, todo também pode ser conveniente, já que cada indivíduo tem uma função específica dentro da estrutura de produção, desempenhando atividades úteis para o processo produtivo todo e que são indispensáveis para que o outro realize também sua atividade, que depende dos indivíduos entre si.
O que os sociólogos acham da Divisão Social do Trabalho
Os clássicos da Sociologia apresentam distintas visões sobre a Divisão Social do Trabalho.
Para Émile Durkheim, esse conceito é pensado conforme a interação social entre os membros de uma sociedade. Para ele, a sociedade só se mantém porque seus membros são coesos (em diferentes níveis), caracterizando os diferentes tipos de solidariedade:
- Solidariedade mecânica: presente em sociedades primitivas, como aldeias ou simples agrupamentos. Nesses tipos de sociedades, as pessoas compartilham os mesmos valores, as mesmas crenças e trabalham para satisfazer as necessidades coletivas, o que garante a coesão.
- Solidariedade orgânica: presente em sociedades modernas. Nessas sociedades, cada pessoa possui uma identidade própria, a divisão do trabalho está presente e isso aumenta a interdependência entre os indivíduos, já que um depende do trabalho do outro. A coesão é garantida pela existência de leis.
Já Karl Marx compreende que as relações sociais são determinadas pelo trabalho e pelas relações de produção, isso para todas as sociedades (das mais simples até as mais complexas). Por isso, ele fala em burguesia e em proletariado, uma divisão hierarquizada entre as classes. À burguesia caberia o trabalho intelectual de organizar o sistema de produção e submeter os trabalhadores a ele; a esses trabalhadores caberia o trabalho manual. Essa é a base para ideias sobre desigualdade.
Por fim, Max Weber analisa a divisão do trabalho sob uma ótica religiosa, analisando as diferenças entre o trabalho para católicos e para protestantes, sendo estes últimos eram ponderados, valorizavam o trabalho e foram responsáveis pelo desenvolvimento da sociedade capitalista, pois trabalhavam para acumular. Weber também destacou a figura do burocrata com funções específicas e subordinadas a cargos mais elevados, definindo uma divisão do trabalho.
Divisão Social do Trabalho no ENEM
(Enem PPL 2011) As relações sociais, produzidas a partir da expansão do mercado capitalista ― e o sistema de fábrica é seu “estágio superior” –, permitiram o desenvolvimento de uma determinada tecnologia, isto é, aquela que supõe a priori a expropriação dos saberes daqueles que participam do processo de trabalho.
Nesse sentido, foi no sistema de fábrica que uma dada tecnologia pôde se impor, não apenas como instrumento para incrementar a produtividade do trabalho, mas, muito principalmente, como instrumento para controlar, disciplinar e hierarquizar esse processo de trabalho.
DECCA, E. S. O Nascimento das Fábricas. São Paulo: Brasiliense, 1986. (fragmento) Mais do que trocar ferramentas pela utilização de máquinas, o capitalismo, por meio do “sistema de fábrica”, expropriou o trabalhador do seu “saber fazer”, provocando, assim,
a) a desestruturação de atividades lucrativas praticadas pelos artesãos ingleses desde a Baixa Idade Média.
b) a divisão e a hierarquização do processo laboral, que ocasionaram o distanciamento do trabalhador do seu produto final.
c) o movimento dos trabalhadores das áreas urbanas em direção às rurais, devido à escassez de postos de trabalho nas fábricas.
d) a organização de grupos familiares em galpões para elaboração e execução de manufaturas que seriam comercializadas.
e) a associação da figura do trabalhador à do assalariado, fato que favorecia a valorização do seu trabalho e a inserção no processo fabril.
Resposta: B
O texto aponta para a Revolução Industrial, que gerou a divisão do trabalho, o controle e disciplina do trabalhador, trabalho repetitivo, bem como a alienação do trabalhador no processo produtivo, ou seja, há um distanciamento do trabalhador em relação ao seu produto final. Conforme o texto, o capitalismo expropriou o trabalhador do seu “saber fazer”.