Cultura e sociedade: conceitos e características

Publicado em: 22/12/2022

O ser humano só existe em sociedade. Ao contrário de outros animais, os seres humanos só se reconhecem com base nas relações que estabelecem entre si. Os indivíduos são capazes de construir sua realidade em um processo contínuo de interação e transformação dos contextos nos quais estão inseridos. 

Por meio da cultura e sociedade é que podemos encontrar os elementos que possibilitam a interpretação da realidade e da posição social de cada indivíduo nas diferentes relações estabelecidas entre os homens na sociedade.

Conceitos de cultura e sociedade

Podemos entender que cultura é tudo que é feito, aprendido ou compartilhado por membros de uma sociedade: valores, crenças, comportamentos, símbolos, línguas e objetos materiais.  

Já sociedade significa um grupo de indivíduos que vivem em um território definido e que compartilham uma cultura. Dessa forma, podemos perceber que esses conceitos estão interligados.

O que é cultura

Ao longo de muitos séculos, o conceito de cultura foi sendo transformado por muitos significados, tanto pelo debate científico, como pelo senso comum. Na Antropologia, o conceito de cultura sempre foi alvo de inúmeras discussões. 

Com o advento do Iluminismo, no século XVIII, o desenvolvimento do espírito humano tornou-se uma das questões mais importantes para os pensadores da época, que adotaram uma perspectiva que considerava a racionalidade, a autonomia e a liberdade como partes inerentes à essência humana. 

A noção de cultura, nesse período, compartilhada por intelectuais e aristocratas franceses, estava ligada ao cultivo de alguma faculdade específica, como intelecto, etiqueta social ou artes. Portanto, cultura era considerada um atributo individual, ligada às realizações materiais de um povo.

Evolucionismo cultural

No século XIX, a perspectiva mais aceita pelos intelectuais mais respeitados no círculo antropológico era a de que toda a humanidade compartilhava de uma mesma linha evolutiva que se iniciava nas sociedades consideradas primitivas e tinham seu ápice naquelas sociedades consideradas civilizadas, como a europeia. Essa linha de pensamento ficou posteriormente conhecida como Evolucionismo cultural

Culturalismo

No final do século XIX, o antropólogo alemão Franz Boas construiu uma crítica à ideia de civilização das teorias evolutivas.  No Culturalismo, ele inaugurou a utilização do conceito de cultura em uma perspectiva pluralista, discorrendo sobre culturas e não cultura. Isso pode até parecer uma pequena diferença, mas foi uma transformação bastante significativa.

Claude Lévi- Strauss

Claude Lévi- Strauss foi um dos mais importantes pensadores do século XX, inaugurando uma corrente de pensamento chamado estruturalismo, a qual ressaltou que é necessário distinguir as culturas, porém sem hierarquizá-las, já que uma não deve ser considerada superior à outra. Para os estruturalistas não basta viver entre os diferentes para observar como funciona uma estrutura social. É preciso entender como essa estrutura funciona e por quê.

Escola Interpretativista

Outra corrente de pensamento bastante importante na Antropologia, que se desenvolveu na segunda metade do século XX, foi a Escola Interpretativista ou simbólica de Antropologia.  Essa vertente rejeita a busca de esquemas únicos ou totalizantes das culturas, valorizando o ponto de vista dos nativos. Defende que, isoladamente, nenhum elemento da cultura faz sentido – sendo necessário compreendê-lo por meio de um contexto mais amplo, das redes de significados presentes dentro da cultura pesquisada.

Cultura material e não material

Apesar das muitas diferenças entre culturas, todas são constituídas por dois elementos fundamentais: cultura material e cultura não material

Cultura material

A cultura material abrange os objetos físicos de uma sociedade, como, por exemplo, as ferramentas, a tecnologia, as vestimentas, os adornos e os meios de transporte.  

Cultura não material

Já a cultura não material compreende os aspectos abstratos de uma cultura, como os valores e crenças que influenciam seus membros.

Elementos culturais

Podemos definir elementos culturais como todos os modelos, os padrões, os modos de ser e de pensar. São exemplos desse conceito: os costumes, os rituais e as crenças, além de roupas, alimentos e outros itens

As principais características são: eles representam e identificam um grupo humano, são elementos coesos, fazem parte de uma manifestação coletiva e eles reivindicam a transmissão oral ou a prática para continuidade.

Hierarquias de culturas e diversidade cultural

Diversidade cultural significa a existência de várias culturas e, portanto, de diferenças culturais. Essa diversidade cultural pode existir também dentro da própria sociedade, gerando o surgimento de uma cultura dominante, subculturas e contraculturas. No entanto, não podemos dizer que existe uma cultura superior às outras, pois não devemos estabelecer escalas valorativas entre culturas distintas.

A cultura dominante de uma sociedade é produzida pelo grupo de maior número de pessoas ou o que exerce mais poder econômico, político ou social sobre os outros. Uma subcultura diz respeito a um conjunto de pessoas que vivem de forma diferente da classe dominante e não se opõe a ela. O espiritismo, por exemplo, é uma subcultura que existe no Brasil – um país predominantemente cristão.  

Já a contracultura é um grupo cujos valores se opõem aos da cultura dominante, podendo agir de forma violenta e pacífica para expressar suas ideias. Por exemplo, os hippies da década de 1960 constituíam uma contracultura, pois eles se opunham aos valores capitalistas e conservadores da época.

Etnocentrismo

Etnocentrismo é quando julgamos outras culturas segundo nossos próprios parâmetros culturais. Por exemplo, quando consideramos uma população atrasada porque lhe faltam determinadas tecnologias, estamos sendo etnocêntricos.

Relativismo Cultural

O relativismo cultural é uma forma de encarar a diversidade sem impor valores e normas alheios. Podemos considerar o relativismo uma inversão do evolucionismo: se esse escalona diferenças a partir de valores específicos das sociedades ocidentais, o relativismo evita qualquer tipo de escala, analisando as diferenças segundo os termos da própria sociedade da qual fazem parte.

 Cultura e Sociedade no Enem

O ENEM tem cobrado, em suas questões, as diferenças culturais entre os povos e o respeito entre as múltiplas culturas no mundo, bem como a reflexão sobre como nos apropriamos de objetos, festas ou expressões de uma cultura.

Enem 2017

Muitos países se caracterizam por terem populações multiétnicas. Com frequência, evoluíram desse modo ao longo de séculos. Outras sociedades se tornaram multiétnicas mais rapidamente, como resultado de políticas incentivando a migração, ou por conta de legados coloniais e imperiais.

GIDDENS. A. Sociologia. Porto Alegre: Penso, 2012 (adaptado).

Do ponto de vista do funcionamento das democracias contemporâneas, o modelo de sociedade descrito demanda, simultaneamente:   a) defesa do patriotismo e rejeição ao hibridismo.    

b) universalização de direitos e respeito à diversidade.    

c) segregação do território e estímulo ao autogoverno.    

d) políticas de compensação e homogeneização do idioma.    

e) padronização da cultura e repressão aos particularismos.       Resposta:

 [B]   A existência de populações multiétnicas depende do reconhecimento das diversas etnias no território nacional. Isso somente pode se dar através da universalização de direitos e de um amplo respeito jurídico e social à diversidade.