Compreensão e interpretação de textos: tudo o que você precisa saber

Publicado em: 18/05/2022

Ler, escrever e desenvolver o raciocínio lógico-matemático são fatores fundamentais que todas as crianças precisam aprender no início da vida escolar. Após esse primeiro conhecimento básico, a criança passa a desenvolver ferramentas de aprendizagem a partir de seus próprios conhecimentos de mundo somados àqueles que vai aprendendo ao interagir com o meio social ao qual está começando a fazer parte.

Aprender a compreender e interpretar textos é algo que se desenvolve desde a infância, e é um dos conteúdos mais importantes para vestibulares. Entendendo o que é compreensão e interpretação de texto, você poderá captar a mensagem que os enunciados das questões passam e o seu propósito com as informações que oferece, aumentando suas chances de pontuação.

Diferença entre compreensão e interpretação de texto

Compreender o texto

Compreender um texto significa dizer que o leitor é capaz de reconhecer a língua, se é o português, o inglês, o espanhol..., ou a linguagem, se é a formal, informal, visual, verbo-visual..., presente naquele documento. Dessa forma, compreender está inteiramente relacionado ao plano estrutural do texto, o que está nas linhas, ou seja, aquilo que está na superfície do texto. Observe:

“João parou de sofrer quando Lia voltou”.

Observe que, por meio do exemplo, podemos entender que João estava sofrendo porque Lia tinha partido, mas que, quando ela voltou, parou de sofrer.

É importante apontar que, nas provas de vestibulares e concursos, a compreensão vem sendo solicitada nas questões quando começam com “Segundo o texto”, “De acordo com a publicação”, “Tendo em vista o que está escrito no texto”, “O texto informa que”. Dessa maneira, as respostas precisam estar de acordo com o que está literalmente escrito no texto estudado.

Interpretar o texto

Já a interpretação do texto vai além da estrutura textual. A interpretação está relacionada aos conhecimentos que o leitor vai adquirindo durante toda a sua vida. Aqui é preciso ter um olhar mais atento e cuidadoso, já que o que precisa ser entendido não está explícito no texto e sim nas entrelinhas, ou seja, aquilo que está mais afundo no texto sendo preciso fazer inferências, buscando relacionar ao seu conhecimento de mundo ao tirar suas próprias conclusões.

Por exemplo, ao voltarmos no trecho acima sugerido, podemos ter outras conclusões a respeito da interpretação da frase:

“João parou de sofrer quando Lia voltou”.

Observe que João e Lia, a depender do contexto, poderiam ser um casal de namorados que brigaram, mas que, depois de uma longa conversa, conseguiram se reconciliar e Lia decidiu voltar e acabar com o sofrimento do amado, deixando-o feliz.

Percebe a diferença?

É importante pontuar que nos enunciados de exercícios sobre interpretação, as expressões podem aparecer da seguinte maneira: “Podemos inferir que”, “O autor, ao falar sobre...”, “Diante do que foi exposto, podemos concluir que”, “O texto permite a compreensão de...”.

O esquema abaixo auxilia a entender a diferença entre compreensão e interpretação. Veja:

ITEMCOMPREENSÃOINTERPRETAÇÃO
Definição- Análise objetiva;- Compreensão de frases e ideias na materialidade do texto.- Análise subjetiva;- O leitor infere o que o texto quer dizer a partir de suas vivências.
InformaçãoAs informações estão disponíveis apenas no texto.As informações vão para além do texto, mesmo que tenham uma ligação direta com o mesmo.
Análise-Objetiva;- Fatos.- Subjetiva;- Opinião.

Dicas para compreender e interpretar textos

A leitura, com certeza, é a dica principal para o bom funcionamento da compreensão e da interpretação dos textos. É a partir dela que conseguimos captar a materialidade do texto, bem como, aprender mais conceitos sobre diversos assuntos que podem ser utilizados na nossa interpretação ao conseguirmos inferir significados diversos, não apenas na leitura, mas na escrita também.

Além disso, existem outras maneiras que você pode utilizar para garantir seu aprendizado, como:

· Aprender as regras gramaticais da Língua Portuguesa;

· Compreender figuras de linguagem;

· Diferenciar a linguagem denotativa da linguagem conotativa;

· Identificar os elementos de coesão presentes no texto: “portanto”, “dessa maneira”, “sendo assim”;

· Compreender a sequência lógica apresentada no texto;

· Ler textos em voz audível;

· Sublinhar ou circular palavras-chave presentes no texto;

· Diferenciar fatos de opiniões.

Compreender e interpretar textos no Enem

As provas do Enem, como você já sabe, são contextualizadas e precisam de uma leitura atenta, não só a nível textual, mas também uma leitura a partir do conhecimento que o estudante tem. Dessa forma, todas as questões precisam ser compreendidas e interpretadas para serem resolvidas.

Observe:

(Enem - 2012) A substituição do haver por ter em construções existenciais, no português do Brasil, corresponde a um dos processos mais característicos da história da língua portuguesa, paralelo ao que já ocorrera em relação à aplicação do domínio de ter na área semântica de “posse”, no final da fase arcaica.

Mattos e Silva (2001:136) analisa as vitórias de ter sobre haver e discute a emergência de ter existencial, tomando por base a obra pedagógica de João de Barros. Em textos escritos nos anos quarenta e cinquenta do século XVI, encontram-se evidências, embora raras, tanto de ter “existencial”, não mencionado pelos clássicos estudos de sintaxe histórica, quanto de haver como verbo existencial com concordância, lembrado por Ivo Castro, e anotado como “novidade” no século XVIII por Said Ali.

Como se vê, nada é categórico e um purismo estreito só revela um conhecimento deficiente da língua. Há mais perguntas que respostas. Pode-se conceber uma norma única e prescritiva? É válido confundir o bom uso e a norma com a própria língua e dessa forma fazer uma avaliação crítica e hierarquizante de outros usos e, através deles, dos usuários? Substitui-se uma norma por outra?

CALLOU, D. A propósito de norma, correção e preconceito linguístico: do presente para o passado, In: Cadernos de Letras da UFF, n.° 36, 2008. Disponível em: www.uff.br. Acesso em: 26 fev. 2012 (adaptado).

Para a autora, a substituição de “haver” por “ter” em diferentes contextos evidencia que

a) o estabelecimento de uma norma prescinde de uma pesquisa histórica.

b) os estudos clássicos de sintaxe histórica enfatizam a variação e a mudança na língua.

c) a avaliação crítica e hierarquizante dos usos da língua fundamenta a definição da norma.

d) a adoção de uma única norma revela uma atitude adequada para os estudos linguísticos.

e) os comportamentos puristas são prejudiciais à compreensão da constituição linguística.

Para responder à questão, é preciso entender o que a autora diz quanto aos comportamentos linguísticos adotados. Observe que, no último parágrafo do trecho, é apresentada uma crítica sobre o “purismo estreito” ser um conhecimento deficiente. Dessa forma, a alternativa correta é a letra e, visto que estes comportamentos são prejudiciais à compreensão da língua.