Barroco: origem, características e principais obras

Publicado em: 22/12/2022

O Barroco foi um movimento artístico e uma escola literária que surgiu na Europa, durante o século XVII. Esse período é marcado por conflitos de ideias sobre religião, causados pela ocorrência da Contrarreforma como oposição à Reforma Protestante. Esses conflitos se refletiram em expressões artísticas caracterizadas por contrastes e contradições. A literatura barroca é um exemplo de como a escrita pode ser utilizada para que o homem expresse seus dilemas e transmita a complexidade das suas ideias e sentimentos.

Contexto histórico do Barroco

O Renascimento foi um período histórico entre os séculos XIV e XVI, em que houve grande desenvolvimento das artes e das ciências pela Europa. Em parte, isso ocorreu por conta do questionamento da doutrina católica proporcionado pela Reforma Protestante de Martinho Lutero.

No século XVII, para combater esse crescimento do protestantismo e fazer uma expansão do catolicismo, a Igreja Católica realizou a Contrarreforma, uma série de medidas para reforçar a doutrina católica, punir aqueles que a não seguissem, e catequizar, através da Companhia de Jesus, os povos colonizados.

A divisão entre protestantismo e catolicismo, entre racionalismo e religiosidade, estava causando questionamentos entre as pessoas da época sobre o que era certo ou errado, gerando incertezas e angústias existenciais. Esses sentimentos e ideias foram expressos nas obras de um movimento artístico denominado Barroco.

Características do Barroco

Religiosidade

Inseridos em um contexto histórico de grande turbulência religiosa entre diferentes vertentes cristãs, os escritores barrocos frequentemente abordavam temas relacionados ao cristianismo.

Drama existencial, pessimismo

Havia um dilema que despertava medo nos artistas do barroco. Esse dilema era: valia mais a pena aproveitar a vida (“carpe diem”) e arriscar ir para o inferno após a morte ou ter uma vida pia e nunca experimentar os prazeres terrenos, com o risco de não haver uma recompensa depois da morte?

Esse drama existencial e a impossibilidade de se saber ao certo como resolvê-lo causavam uma grande angústia nos autores do Barroco, proporcionando um tom pessimista em muitas das suas obras. A questão da efemeridade da vida, ou seja, do quanto ela é passageira, era central em muitos textos barrocos.

Oposições e conflitos entre elementos antagônicos

Racionalismo vs Religiosidade. Antropocentrismo (o ser humano no centro de tudo) vs Teocentrismo (Deus no centro de tudo). Material vs Espiritual.

Muitos eram os conflitos internos dos artistas barrocos e os reflexos disso na sua escrita. Paradoxos e antíteses eram frequentemente utilizados para transmitir a ideia de uma existência confusa, cheia de contradições e de opostos.

Exagero

A intensidade do drama existencial do escritor barroco é transmitida em uma escrita com uma linguagem exagerada, marcada pelo uso de hipérboles.

Complexidade

Os dilemas dos escritores barrocos eram complexos e eles tentavam transmitir essa complexidade através da sua escrita. Dois estilos literários se destacaram por essa característica: cultismo e conceptismo.

O cultismo é um estilo também chamado de gongorismo, no qual ocorre um “jogo de palavras”. Ele se caracteriza pela complexidade da linguagem. Ele tem como traço principal o preciocismo vocabular - ou seja, suas palavras são cultas, rebuscadas, ornamentadas. Figuras de linguagem são frequentes nesse estilo de escrita.

Já o conceptismo, também chamado de quevedismo, é um estilo no qual ocorre um “jogo de ideias”. Ele se caracteriza pela complexidade das ideias que traz e da articulação entre elas. O principal traço desse estilo é a utilização de estratégias argumentativas racionais e lógicas, como silogismos, para convencer o leitor.

Principais autores do Barroco

Luís de Góngora e Francisco de Quevedo foram dois escritores espanhóis que tiveram papéis centrais na escola literária barroca. Góngora desenvolveu o estilo literário gongorismo, enquanto Quevedo desenvolveu o estilo literário quevedismo. Ambos foram, portanto, figuras muito influentes da escrita barroca.

Tratando-se de autores portugueses, destacam-se os nomes do padre Antônio Vieira, do padre Manuel Bernardes e da freira Mariana Alcoforado.

O padre Antônio Vieira foi um jesuíta português que veio para o Brasil para catequizar os povos indígenas e viveu aqui durante a maior parte da sua vida. Seus sermões faziam uso do conceptismo para apresentar ideias religiosas de forma racional.

O padre Manuel Bernardes, autor de Nova Floresta, fazia textos voltados à doutrinação moral, e utilizava figuras de linguagem como metáfora, comparação e antítese como recursos para fortalecer seus argumentos.

Mariana Alcoforado foi a autora de Cartas Portuguesas, uma obra epistolar bastante popular no seu tempo, na qual era explorada a dualidade entre amor espiritual e carnal.

Barroco no Brasil

O Barroco começou na Itália e se difundiu na Europa, chegando a Portugal. A popularização dessa escola literária em Portugal fez com que ela se tornasse conhecida entre os descendentes brasileiros de famílias portuguesas, que iam para Portugal para os seus estudos. Assim, também se espalhou o Barroco no Brasil.

Manuel Botelho de Oliveira, autor brasileiro, tornou-se conhecido pelos seus poemas com preciosismo vocabular e uso de figuras de linguagem, publicados na obra Música do Parnaso.

Gregório de Matos, outro escritor brasileiro, conhecido como “Boca-do-inferno”, fazia poemas líricos-amorosos, sacros e satíricos. Alguns de seus poemas famosos são A Cristo N.S. Crucificado e A D. ngela. Eis uma breve explicação dos tipos de poesia que ele escrevia.

Poesia Lírica-Amorosa

Costumava abordar a dualidade entre o desejo carnal e o desejo da salvação espiritual. O interesse amoroso do eu-lírico era visto, ao mesmo tempo, como um anjo e como uma tentação.

Poesia Sacra

Tratava das preocupações de um pecador com a efemeridade da vida e com a possibilidade de salvação após a morte.

Poesia Satírica

Trazia críticas sociais, políticas e econômicas, muitas vezes utilizando senso de humor.

Barroco no ENEM

No ENEM, é necessário que o estudante compreenda quais eram os propósitos e características das obras barrocas e como elas estavam inseridas no seu contexto sócio-histórico.

ENEM 2014

Quando Deus redimiu da tirania

Da mão do Faraó endurecido

O Povo Hebreu amado, e esclarecido,

Páscoa ficou da redenção o dia.

Páscoa de flores, dia de alegria.

Àquele Povo foi tão afligido.

O dia, em que por Deus foi redimido;

Ergo sois vós, Senhor, Deus da Bahia.

Pois mandado pela alta Majestade

Nos remiu de tão triste cativeiro,

Nos livrou de tão vil calamidade.

Quem pode ser senão um verdadeiro

Deus, que veio estirpar desta cidade

O Faraó do povo brasileiro.

DAMASCENO, D. (Org.). Melhores poemas: Gregório de Matos. São Paulo: Globo, 2006.

Com uma elaboração de linguagem e uma visão de mundo que apresentam princípios barrocos, o soneto de Gregório de Matos apresenta temática expressa por:

A) visão cética sobre as relações sociais.

B) preocupação com a identidade brasileira.

C) crítica velada à forma de governo vigente.

D) reflexão sobre os dogmas do cristianismo.

E) questionamento das práticas pagãs na Bahia.