Artigos: o que são, tipos e exemplos
Publicado em: 27/02/2023O artigo é a classe de palavras que antecede o substantivo, evidenciando se esse nome possui sentido específico ou genérico. Por isso, é correto dizer que o artigo possui uma função remissiva, uma vez que ele está sempre apoiando outra palavra, sendo esta substantivada.
Exatamente por se antepor ao substantivo, o artigo possui função de adjunto. Portanto, eles não podem ser sintaticamente separados. Além disso, para além da simples classificação gramatical de qual palavra pertence à classe artigo, essa classe possui um papel relevante no discurso.
Ora, se o artigo evidencia o sentido delimitado ou generalizado de um termo, ele pode ser um grande recurso semântico na produção de textos e, inclusive, na resolução de questões de certames, como o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM).
Tipos de artigos
Antes de prosseguir, é importante entender que aquele artigo indicador de delimitação é conhecido como artigo definido. Seguindo essa mesma lógica, aquele que sugere os sentidos genéricos é chamado de artigo indefinido. Ambos variam em gênero e em número, sendo o, a, os e as relativos aos definidos e um, uma, uns e umas relativos aos indefinidos.
Para visualizar a distinção semântica, leia os dois exemplos a seguir: “acesse o site e leia o texto” e “acesse o site e leia um texto”. Qual dos dois apresenta sentido semelhante à “leia aquele texto”? O primeiro, não é mesmo? Isso ocorre porque o artigo o, que antecede o texto, evidencia ser algum texto previamente selecionado, delimitando o substantivo. Já no segundo caso, o artigo um, que também antecede o texto, sugere a ideia de ser qualquer texto, sem nenhuma delimitação, isto é, um objeto genérico.
Notadamente, em um evento comunicativo real, como uma conversa por Whatsapp ou um diálogo pessoalmente, há outros elementos que reforçam a ideia de ser algo específico ou algo genérico. Isso quer dizer que o contexto como um todo é relevante na análise do sentido desses substantivos.
Considerando todas essas informações, é possível afirmar, também, que o artigo concorda com o substantivo. Em outras palavras, se o substantivo está no plural, o artigo também vai para o plural. Se o substantivo está no feminino, o artigo também se apresenta no feminino. Como exemplo, temos “leia o texto”, “leia os textos”, “leia a redação” e “leia as redações”.
Empregos dos artigos
Sabendo disso, podemos retornar à importância discursiva do artigo. Pense, por exemplo, na palavra cabeça. Ela, sozinha, sem contexto de uso, possui diversos significados. No entanto, se a oração for “a cabeça da girafa está bem longe do corpo” ou “ele é o cabeça do grupo”, o uso do artigo definido, aliado ao contexto de comunicação, evidencia qual o sentido o enunciatário deve compreender.
Na primeira sentença, a cabeça equivale à seção do corpo do animal, enquanto, na segunda, equivale ao papel de líder.
Em alguns casos, o artigo pode se juntar a outras classes de palavras, como preposição, por meio de um evento conhecido como contração. A partir daí, surgem termos como à, ao, às, aos (preposição a + artigo a, o, as, os); na, no, nas, nos (preposição em + artigo a, o, as, os); e pela, pelo, pelas, pelos (preposição por + artigo a, o, as, os).
Os casos de contração merecem um comentário separado: não se trata de palavras de classe gramatical nova. Ainda são preposições e artigos. O que ocorre é que, por diversos motivos, como a oralidade, ocorre junção fonética das palavras, que são transcritas na na modalidade escrita nesse formato.
Adentrando em outros campos da Língua Portuguesa, como na Literatura, é possível realizar a substantivação do artigo. Isso quer dizer que o artigo deixa de ser um adjunto e passa a exercer valor de nome. O autor Guimarães Rosa, por exemplo, em Grande sertão: Veredas, possui diversos nomes para se referir ao diabo. Um deles é o artigo masculino definido, como em o O.
Nesse caso, a escolha do autor pelo artigo para se referir ao diabo pode sugerir que ele é a personificação do mal, de tal forma que a noção de um termo definido (sem acompanhar um substantivo) já reflete essa ideia.
Artigos no Enem
Já em certames como ENEM, os conceitos relacionados aos artigos podem ser, novamente, utilizados na compreensão do tema redação e na elaboração do texto, além de resolução de questões.
Por exemplo, durante a formulação de propostas de intervenção da redação, a identificação adequada de um artigo definido ou indefinido, a fim de especificar ou generalizar um termo, pode ser grande diferencial na compreensão da sua ideia.
Já as questões do ENEM costumam trabalhar a análise linguística como um todo (e não somente a classificação gramatical). Por isso, algumas vão analisar o uso do artigo e os efeitos de sentido causados, conforme o exemplo a seguir:
As alegres meninas que passam na rua, com suas pastas escolares, às vezes com seus namorados. As alegres meninas que estão sempre rindo, comentando o besouro que entrou na classe e pousou no vestido da professora; essas meninas; essas coisas sem importância.
O uniforme as despersonaliza, mas o riso de cada uma as diferencia. Riem alto, riem musical, riem desafinado, riem sem motivo; riem.
Hoje de manhã estavam sérias, era como se nunca mais voltassem a rir e falar coisas sem importância. Faltava uma delas. O jornal dera notícia do crime. O corpo da menina foi encontrado naquelas condições, em lugar ermo. A selvageria de um tempo que não deixa mais ir. As alegres meninas, agora sérias, tornaram-se adultas de uma hora para outra; essas mulheres.
ANDRADE, C. D. Essas meninas. Contos plausíveis. Rio de Janeiro: José Olympio, 1985.
No texto, há recorrência do emprego do artigo “as” e do pronome “essas”. No último parágrafo, esse recurso linguístico contribui para:
A) intensificar a ideia do súbito amadurecimento.
B) indicar a falta de identidade típica da adolescência.
C) organizar a sequência temporal dos fatos narrados.
D) complementar a descrição do acontecimento trágico.
E) expressa a banalidade dos assuntos tratados na escola.
Conforme a alternativa correta (A), tanto o artigo as quanto o pronome essas destacam a transformação sofrida pelas meninas, que, agora, são compreendidas forçadamente como mulheres, em decorrência de uma violência e de um sofrimento. Por fim, é possível, então, afirmar que a compreensão dos sentido de uso dos artigos definidos ou indefinidos auxilia, inclusive, a interpretação textual, assunto esse tão relevante e frequente em questões de diversos vestibulares.