Arcadismo: o que foi, principais caracaterísticas e como cai no Enem

Publicado em: 18/10/2023

O Arcadismo foi um movimento literário e artístico que foi originado na Europa, durante o fim do século XVII e início do século XVIII. Esse foi um período de forte desenvolvimento industrial e crescimento urbano. Tematicamente, as obras árcades expressavam o desejo de escapar dessa turbulência das cidades e apreciar uma vida simples no campo. Seus princípios eram baseados nos ideais do Iluminismo e nas tradições clássicas greco-romanas, expressando racionalismo e objetivismo.

Arcadismo é um nome derivado de Arcádia, uma região campestre da Grécia Antiga. Esse movimento também é chamado de neoclassicismo.

Contexto histórico do Arcadismo

Com a descoberta da máquina a vapor no fim do século XVII, o século XVIII passou por uma Revolução Industrial, iniciada na Inglaterra. Essa revolução foi um período de avanços tecnológicos, resultando em um crescimento industrial que fez com que as pessoas deixassem o campo e viessem buscar oportunidades de emprego nas cidades. A população urbana, portanto, aumentou consideravelmente.

Na economia, as mudanças causadas pelo avanço industrial favoreceram a burguesia. Entretanto, essa classe ainda tinha seus poderes políticos e econômicos limitados pela economia mercantilista e monarquias absolutistas.

Assim, surgiu o Iluminismo, um movimento cultural europeu que defendia o racionalismo e o liberalismo econômico para o progresso da sociedade. Os pensadores iluministas consideravam que a Idade Média havia sido uma “idade das trevas” para a humanidade e queriam uma nova era de luz.

O Arcadismo foi um movimento artístico associado especialmente à burguesia, marcado por ideais iluministas e por um retorno às tradições greco-romanas do período Clássico. Esse período foi uma inspiração, por ser considerado um momento histórico esclarecido antes da decadência intelectual trazida pela Idade Média.

Os escritores do Arcadismo faziam parte de Arcádias, grupos de intelectuais que tinham princípios literários similares. Apesar de muitos deles serem homens ricos que viviam na cidade, em sua produção poética, eles assumiam o papel de um pastor que levava uma vida simples no campo e desprezava as agitações da vida urbana.

Em Portugal, o Arcadismo foi iniciado com o estabelecimento da Arcádia Lusitana em 1756, inspirada na Arcádia Italiana que existia desde 1690.

No Brasil, essa tendência literária chegou através dos jovens burgueses que iam para Portugal estudar. A obra que iniciou o Arcadismo brasileiro foi “Obras Poéticas” de Cláudio Manuel da Costa, publicada em 1768.

Principais características do Arcadismo

  • Racionalismo
  • Simplicidade
  • Objetividade
  • Influência da tradição clássica greco-romana e dos ideais iluministas
  • Idealização da mulher amada e da natureza
  • Pseudônimos em latim ou grego, associados a uma identidade pastoril.
  • Fugere urbem: desejo de fuga das cidades.
  • Locus amoenus: apreço por um lugar sereno no campo, bucolismo.
  • Aurea mediocritas: valorização de uma vida modesta, como a de um pastor.
  • Inutilia truncat: rejeição dos exageros do barroco e adoção de uma linguagem simples para a arte.
  • Carpe diem: aproveitamento dos prazeres da vida, considerada passageira e efêmera. No entanto, esse aproveitamento é feito de forma equilibrada, sem exageros.

Principais autores do Arcadismo

Manuel Maria Barbosa du Bocage

Poeta português. Fez parte da Nova Arcádia e tinha o pseudônimo Elmano Sadino. Escreveu poesias líricas, satíricas e eróticas. Embora seja um poeta árcade, por sua associação ao movimento e sua produção de poemas com aspectos árcades, tais como rigor formal e bucolismo, Bocage também é considerado um pré-romântico pelo modo como explorou o subjetivismo em suas produções poéticas.

Tomás Antônio Gonzaga

Um dos participantes da Inconfidência Mineira e poeta. Utilizava o pseudônimo Dirceu. Seu amor por Maria Dorotéia Joaquina de Seixas Brandão, a “pastora Marília”, foi a inspiração para a sua obra mais famosa, “Marília de Dirceu”, na qual há forte idealização da sua amada e bucolismo.

Também destaca-se na sua produção literária, a obra satírica “Cartas Chilenas”, na qual ele realizou críticas ao governo de Vila Rica em Minas Gerais. Entretanto, para evitar uma repercussão política, ele utilizou o pseudônimo Citrilo e trocou nomes de lugares. Por exemplo, ele se referiu à Vila Rica como se estivesse falando de Santiago, no Chile.

Claudio Manuel da Costa

Um dos participantes da Inconfidência Mineira e poeta. Inaugurou o arcadismo brasileiro com a publicação de “Obras Poéticas” em 1768 e a fundação da Arcádia Ultramarina. Seu pseudônimo era Glauceste Satúrnio.

Em sua produção poética, fez poesias líricas e épicas com temas e aspectos formais característicos do Arcadismo. No entanto, seus poemas também possuíam temáticas brasileiras e elementos mais associados ao Barroco e pré-Romantismo. O sentimentalismo e pessimismo de alguns dos seus poemas, por exemplo, não é tipicamente árcade.

Basílio da Gama

Poeta brasileiro associado ao Marquês de Pombal. Sua obra mais famosa foi o poema épico indianista “O Uraguai”, crítico aos jesuítas da Companhia de Jesus e favorável às políticas pombalinas. Os indígenas são representados pelo poeta com simpatia, mas sob uma perspectiva eurocêntrica.

Santa Rita Durão

Frei e poeta brasileiro. Seu poema épico indianista “Caramuru” foi sua obra mais importante. Além de traços caracteristicamente árcades, como sua influência clássica, esse poema tinha características pré-românticas.

Arcadismo no Brasil

O Arcadismo brasileiro se concentrou em Vila Rica, Minas Gerais - na época, a capitania mais rica do Brasil, por conta da mineração de ouro e diamantes. Ele foi trazido ao país por jovens ricos que estudaram em Portugal e aprenderam sobre esse movimento, estabelecendo a Arcádia Ultramarina em Vila Rica.

Os poetas árcades também se interessaram pelas ideias iluministas que conheceram na Europa - inclusive em Portugal, que estava passando por reformas promovidas pelo Marquês de Pombal, baseadas em alguns dos princípios iluministas. Por conta disso, muitos desses poetas se envolveram com a Inconfidência Mineira, um movimento de conspiração política que buscava a separação dessa região e sua independência da coroa portuguesa.

Com a descoberta do plano dos Inconfidentes pelos colonizadores, seus membros foram punidos. Tomás Antônio Gonzaga foi exilado, enquanto Claudio Manuel da Costa foi preso temporariamente.

Como o Arcadismo cai no ENEM

Para o ENEM, é essencial que o aluno entenda as principais características do Arcadismo e seu contexto histórico - especialmente, em relação com o Iluminismo e com a Inconfidência Mineira.

ENEM 2008

Torno a ver-vos, ó montes; o destino Aqui me torna a pôr nestes outeiros, Onde um tempo os gabões deixei grosseiros Pelo traje da Corte, rico e fino. Aqui estou entre Almendro, entre Corino, Os meus fiéis, meus doces companheiros, Vendo correr os míseros vaqueiros Atrás de seu cansado desatino. Se o bem desta choupana pode tanto, Que chega a ter mais preço, e mais valia Que, da Cidade, o lisonjeiro encanto, Aqui descanse a louca fantasia, E o que até agora se tornava em pranto Se converta em afetos de alegria.

Cláudio Manoel da Costa. In: Domício Proença Filho. A poesia dos inconfidentes. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2002, p. 78-9.

Considerando o soneto de Cláudio Manoel da Costa e os elementos constitutivos do Arcadismo brasileiro, assinale a opção correta acerca da relação entre o poema e o momento histórico de sua produção.

(A) Os “montes” e “outeiros”, mencionados na primeira estrofe, são imagens relacionadas à Metrópole, ou seja, ao lugar onde o poeta se vestiu com traje “rico e fino”.

(B) A oposição entre a Colônia e a Metrópole, como núcleo do poema, revela uma contradição vivenciada pelo poeta, dividido entre a civilidade do mundo urbano da Metrópole e a rusticidade da terra da Colônia.

(C) O bucolismo presente nas imagens do poema é elemento estético do Arcadismo que evidencia a preocupação do poeta árcade em realizar uma representação literária realista da vida nacional.

(D) A relação de vantagem da “choupana” sobre a “Cidade”, na terceira estrofe, é formulação literária que reproduz a condição histórica paradoxalmente vantajosa da Colônia sobre a Metrópole.

(E) A realidade de atraso social, político e econômico do Brasil Colônia está representada esteticamente no poema pela referência, na última estrofe, à transformação do pranto em alegria.