Absolutismo: o que foi, como surgiu, principais acontecimentos e como cai no Enem
Publicado em: 27/07/2023No período final da Idade Média, diversas mudanças econômicas, políticas e sociais ocorriam na Europa. Essas mudanças foram motivadas por eventos como as Cruzadas, a Peste Negra e a ascensão da burguesia. Com o declínio da nobreza e o ganho de importância da burguesia, cresce a imagem do monarca, visto como a figura capaz de adequar as regiões sob seu domínio à nova realidade imposta. Para tal, a centralização do poder político em torno do rei, com a benção da Igreja, faz surgir o que chamamos de Absolutismo.
Características do Absolutismo
O absolutismo é um sistema político caracterizado pela centralização do poder político nas mãos do monarca, sendo predominante na Europa entre os séculos XV e XIX. Suas principais características são a união entre poder político e poder religioso, o mercantilismo como modelo econômico, o protecionismo dado à burguesia, sistemas modernos de tributação, unificação dentro do reino de pesos, medidas e moedas e a criação de exércitos nacionais.
Surgimento do Absolutismo
O poder do rei se fortalece a partir das Cruzadas, já que os altos custos dessas expedições militares e religiosas ao Oriente Médio recaiam sobre a nobreza, e o insucesso das Cruzadas representou um “investimento mal sucedido”. Ao mesmo tempo, para a burguesia, as Cruzadas representaram no fortalecimento do comércio no Mar Mediterrâneo, resultando no enriquecimento desta classe econômica. Diante disso, a nobreza teve que pedir socorro aos monarcas, enquanto a burguesia passou a ter força o suficiente para fazer demandas.
Diante dessa situação, a autonomia da nobreza foi reduzida, enquanto a burguesia conseguiu emplacar demandas importantes como sistema unificado de impostos, de pesos e medidas, moeda única, entre outros. Mas, para o poder do rei ser legitimado por completo, faltava a aproximação com a Igreja, que viu ali a oportunidade de ter privilégios no território governado pelo monarca se a mesma validasse o absolutismo. Esse foi o arranjo que fez ascender e consolidar o poder absoluto do rei.
Teorias do Absolutismo
O absolutismo teve um importante embasamento teórico, com filósofos importantes daquele período se debruçando sobre política e escrevendo postulados validando o poder absoluto do rei.
Thomas Hobbes
Dentre os mais importantes temos o inglês Thomas Hobbes, com sua obra O Leviatã. Nela, Hobbes descreve o ser humano como um ser mau por natureza e, para evitar a sua própria extinção, faz-se necessário um poder superior para limitá-lo, e esse seria o poder do monarca, que deveria ser absoluto, com o monopólio da violência, para evitar a própria violência dos súditos.
Jacques Bossuet
Jacques Bossuet foi uma importante referência para a “doutrina do direito divino dos reis”, que afirmava que o poder real derivava do poder divino, devendo ser completamente obedecido. Essas ideias iam de encontro aos escritos de Jean Bodin, outro defensor dessa teoria.
Nicolau Maquiavel
Já o italiano Nicolau Maquiavel, na sua obra O Príncipe, descrevia a política como um fenômeno humano, descrevendo a política como a mesma era, com todos seus problemas e vícios. Uma boa síntese da obra de Maquiavel é quando o mesmo diz que, se o governante precisa escolher ser amado ou temido, é preferível escolher ser temido, já que o amor seria inconstante.
Principais monarcas do Absolutismo
Os estados absolutistas europeus tiveram governantes célebres que encarnaram o espírito do Absolutismo, sendo normalmente lembrados como referências desse sistema político:
Inglaterra
- Henrique VIII: Foi o responsável pelo rompimento da Inglaterra com a Igreja Católica, criando uma igreja própria da qual ele mesmo era o chefe religioso, a Igreja Anglicana.
- Elizabeth I: Foi a responsável por consolidar a Igreja Anglicana, além de repelir os avanços espanhóis com a Invencível Armada. Seu reinado ficou conhecido como um período de estabilidade interna.
França
- Luís XIII: Aliado ao seu primeiro-ministro Cardeal de Richelieu, submeteu a nobreza ao seu poder e findou as conspirações contra seu reinado. Fez profundas reformas econômicas e políticas na França.
- Luís XIV: Apelidado de “Rei Sol”, Luís XIV é o maior símbolo do Absolutismo, sistema político muitas vezes resumido na sua frase “o estado sou eu”. Seu reinado foi o mais longo da história da humanidade, com 72 anos de duração, e foi o responsável pela construção do Palácio de Versalhes.
Espanha
- Reis Católicos: Fernando de Aragão e Isabel de Castela foram os responsáveis pelo surgimento da Espanha enquanto estado. Expulsaram os muçulmanos da Espanha e financiaram a viagem de Cristóvão Colombo à América.
- Fernando VII: Teve seu reinado interrompido por Napoleão Bonaparte, quando o mesmo invadiu e dominou a Espanha. De volta ao poder, suprimiu a autonomia das colônias e perseguiu a oposição liberal.
Portugal
- João V: Reinou por 43 anos e tentou projetar Portugal como importante potência europeia. Foi responsável por importantes obras no país.
- José I: Sucessor de João V, governou Portugal junto de seu primeiro-ministro, Marquês de Pombal, que reformou Lisboa após o Terremoto de 1755, além de expulsar os jesuítas do país (e também do Brasil), além de reforçar o uso da língua portuguesa na colônia americana.
Absolutismo no ENEM
Absolutismo e formação dos estados modernos são temas frequentes no ENEM, seja com questões que perguntam especificamente alguma característica econômica, política ou social do regime, ou sendo pano de fundo temporal para alguma questão. O ENEM valoriza bastante aspectos culturais do período.
Enem 2020
Certos músicos agradavam tanto ao público da Corte por seu talento especial como virtuose ou como compositor, que sua fama se espraiava para além da Corte local onde estavam empregados, chegando aos mais altos níveis. Eram chamados para tocar nas Cortes dos poderosos, como aconteceu com Mozart; imperadores e reis exprimiam abertamente prazer com sua arte e admiração por suas realizações. Tinham permissão para jantar à mesma mesa — normalmente em troca de uma execução ao piano; muitas vezes se hospedavam em seus palácios quando viajavam e assim conheciam intimamente seu estilo de vida e seu gosto.
ELIAS, N. Mozart, sociologia de um gênio. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1995 (adaptado).
Com base no caso descrito, qual elemento histórico do Antigo Regime contrasta com o trânsito de intelectuais e artistas pelas Cortes?
a) Rigidez das estruturas sociais.
b) Fragmentação do poder estatal.
c) Autonomia de profissionais liberais.
d) Harmonia das relações interindividuais.
e) Racionalização da administração pública.
Item correto: A
A questão destaca um importante aspecto do Absolutismo, a rigidez da estrutura social, já que é incomum um plebeu como Mozart poder frequentar o círculo social das famílias reais europeias.